São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A idéia é ficar "mal"

da Reportagem Local

"Na terceira vez em que tomei passei "mal', fiquei desnorteado e dei muita risada", diz G.U., 19, ao se referir a sua experiência. Na gíria do usuário, "passar mal" significa o contrário, "passar bem".
Mal mesmo ele passou quando tomou meio ácido sozinho em seu apartamento. "Tive uma "bad trip'. Fiquei conversando com a minha imagem no espelho, e ela respondia. Não foi bom", conta.
A "bad trip" acontece quando o usuário vive uma situação de pânico ou de extrema ansiedade e quer se livrar da "viagem" o mais breve possível. "O legal é tomar com amigos em algum lugar divertido, como no campo, na praia, em um clube ou em uma festa para se prevenir da "viagem errada'."
Foi em uma rave (festas com som tecno que acontecem nos fins-de-semana em casas de campo ou de praia) que F.T., 18, tomou seu terceiro ácido, há três semanas. Nas raves, o consumo de ácido se reveza com outra droga, o ecstasy, dependendo do que há disponível na hora.
"Pirei no telão que mostrava imagens psicodélicas. Na pista de dança as pessoas pareciam metalizadas", conta F.T., que tomou seu primeiro aos 17 anos.
Com a mesma idade, M.G., 21, teve sua primeira experiência lisérgica. Desde então, já tomou mais de dez ácidos. "A "viagem' mais forte foi a primeira, em São Paulo. Minha prima mais velha arrumou um, e ficamos conversando a noite inteira em uma festa. Pela manhã fomos ao parque Ibirapuera, onde ficamos até o meio-dia." Dois dias depois, ela diz que fumou maconha, o que consome desde os 14, e em seguida encarou um "flashback": "As cores mais fortes voltaram como se eu estivesse "louca' de novo".
Mas se o mundo irreal criado pelo LSD parece uma maravilha, saiba que para quem passa por tratamento de dependência em uma clínica as coisas são bem mais reais. D.M., 18, tenta se livrar do vício de cocaína, crack e maconha. Consumiu LSD quatro vezes e não recomenda a experiência. "Você se fecha em um mundo muito pequeno. São só algumas gargalhadas que não levam a nada. A realidade é anestesiada, e você acaba se perdendo como pessoa. O LSD seduz, mas quando você percebe o que fez se sente um fantoche, um merdinha ambulante."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.