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escuta aqui
Dandy Warhols fazem bem para o ouvinte
Um disco que se sustenta por uma só razão
-a excelência das músicas. Que não depende de um frontman (ou frontwoman)
cheio de atitude. Que joga o visual da banda
para segundo plano. Que passa a zilhões de
milhas da palavra "hype" (no sentido original, de zunzunzum maior que o conteúdo).
Assim é "Welcome to the Monkey House",
do quarteto americano Dandy Warhols, que
"Escuta Aqui" tem o imenso prazer de recomendar.
Não que os aspectos não-musicais
-sobre os quais
tanto se escreve-
sejam necessariamente desprezíveis.
No matadouro da
indústria pop, é preciso se destacar de
algum modo. Seja
por atitude, seja berrando, seja tocando muito alto, seja vestindo-se muito bem, seja andando com as pessoas
certas, seja dando entrevistas descabeladas.
Beleza, faz parte do jogo.
Mas é reconfortante que, de vez em quando,
um álbum fique em pé por razões estritamente musicais. No ano passado, foi o caso de
"Songs for the Deaf", dos Queens of the Stone
Age. Em 2003, "Log 22", do Bettie Serveert, fez
o mesmo. E, agora, é a vez dessa gema rara,
"Welcome to the Monkey House".
O CD tem co-produção do eletro-xamã
Nick Rhodes, do Duran Duran. Simon LeBon,
do mesmo grupo, oferece vocais de apoio. E a
legenda da guitarra Nile Rodgers, do Chic,
brilha na melhor faixa, "The Scientist".
"Thirteen Tales from Urban Bohemia", o
disco anterior dos Dandy Warhols, visitava
sem pudor o glitter rock dos anos 70. Era um
álbum de guitarras e excessos, que produziu o
minihit "Bohemian Like You".
"Welcome to the Monkey House" é diferente. Suas bases parecem ter sido compostas e
tocadas numa velha Roland 808, máquina de
ritmos clássica do rock eletrônico dos anos 80.
Encontra David Bowie em algum ponto do
céu e sai voando rumo a galáxias mais quentes, tomado por uma onda de incurável bem-estar.
O álbum todo é inventivo, com aquela produção cristalina que nos faz querer mergulhar
dentro do aparelho de som. Três canções lhe
dão a base de apoio. A primeira delas, "We
Used to Be Friends", é 100% "feel-good", com
bateção de palmas, teclados sutis e aquele refrão para transformar dia de visita em cemitério numa rave em que todo mundo se adora.
"The Scientist", um funk branco mas não
muito, tem citação a "Fashion", de David Bowie, a guitarra de Rodgers e uma linha de baixo eletrônico que pulsa em ressonância com o
músculo cardíaco.
"You Were the Last High" , ainda mais "espacial" e bowieana, nos convence para além
da dúvida razoável que a vida pode ser muito,
muito feliz.
Dandy Warhols são Peter Holmstrom (guitarra), Courtney Taylor-Taylor (guitarra/vocais/co-produção),
Brent DeBoer (bateria) e Zia McCabe (teclados). Muito obrigado aos quatro.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br.
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