São Paulo, segunda, 30 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

dia mundial de luta contra a Aids
Tira-dúvidas da transmissão do HIV


É possível pegar Aids na manicure? Beijo de língua oferece algum risco de contágio? Tudo bem fazer carícias no órgão sexual do parceiro ou da parceira sem proteção? Confira abaixo a resposta a essas e outras questões bem concretas sobre a transmissão do HIV, segundo o médico infectologista Ricardo Tapajós, chefe da UTI de doenças infecciosas do Hospital da Clínicas


PENETRAÇÃO

Qual o risco de fazer sexo anal sem camisinha?
Alto. Essa é uma das formas mais eficientes de transmissão do vírus. A mucosa anal não foi feita para aguentar o trauma da relação sexual, é bem mais sensível do que a mucosa vaginal e acaba sofrendo lesões, que são portas de entrada para o vírus. Além disso, essa mucosa é fina e altamente absorvente.


Qual o risco de fazer sexo vaginal sem camisinha?
É alto, principalmente para a mulher. Além disso, muitas vezes ela pode ter doenças sexualmente transmissíveis (como herpes e condiloma), que não são visíveis devido à anatomia do órgão feminino. Essas lesões facilitam a transmissão do vírus, pois são portas de entrada. Por isso, além de usar camisinha, as meninas devem ir ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano para fazer exames que identificam essas doenças.

Se o garoto gozar fora, a relação vaginal sem camisinha é segura?
Qualquer contato entre duas mucosas (no caso, da mucosa da vagina com a do pênis) é de risco. O vírus HIV está presente tanto na secreção vaginal quanto na secreção pré-ejaculatória (líquido que sai quando o garoto está excitado).

O risco da transmissão aumenta se a menina está menstruada?
A maior parte dos estudos mostra que, sem camisinha, o risco é maior tanto para a menina quanto para o parceiro.

SEXO ORAL

Sexo oral da parceira (ou do parceiro) em menino sem camisinha é arriscado?
Sexo oral transmite o vírus com menor eficiência do que com penetração, mas também oferece risco, principalmente para o parceiro ativo durante o sexo oral. A solução é praticar sexo oral com camisinha ou com outra barreira de látex, como Magipack (filme plástico usado para proteger alimentos).

Sexo oral do parceiro (ou da parceira) em menina é perigoso?
Sim, pois há contato da mucosa da boca com a mucosa da vagina. É preciso usar uma barreira de látex, como Magipack (filme plástico usado para proteger alimentos).

Engolir esperma é perigoso?
Tanto faz se o esperma é engolido ou não. O problema existe no contato do esperma com a mucosa da boca. Se o garoto gozar na boca da parceira (ou parceiro), o risco do sexo oral aumenta ainda mais.

ALÉM DA PENETRAÇÃO

Gozar nos seios é arriscado?
Não. A pele do corpo é resistente e não absorve o vírus. Há risco somente no contato do esperma com as mucosas (boca, vagina e ânus).

Dedo na vagina ou no ânus do outro oferece risco?
Não, a menos que o dedo esteja sujo de esperma ou secreção vaginal. A pele da mão oferece uma barreira bastante eficiente, até mesmo se estiver lesada (com um machucado, por exemplo). Mas há risco de contrair outras doenças sexualmente transmissíveis, como herpes. Portanto a masturbação mútua (carícias no órgão sexual do outro) é uma prática segura.

Lavar os órgãos sexuais logo após a transa impede o contágio?
Não adianta. Além disso, duchas anais e vaginais antes da transa aumentam a chance de contágio, pois irritam as mucosas.

Há chance de transmissão por beijo de língua?
A chance é muito remota. Seria preciso que um dos parceiros estivesse infectado e que os dois tivessem lesões na boca. Vale lembrar que nesse caso o contágio seria por meio do sangue das lesões, e não pela saliva, que não transmite o HIV. Pode beijar sem pânico.

Beijo "selinho" na boca é seguro?
"Selinho" é 100% seguro, assim como abraço ou aperto de mão.
SITUAÇÕES SEM SEXO

É possível pegar HIV na manicure?
Não. O HIV é um vírus muito sensível ao meio ambiente. Por isso, mesmo que a manicure "tire um bife" de uma mulher infectada e depois use o mesmo alicate em outra cliente, o vírus não será transmitido. O risco é o mesmo em casos de acidentes perfurativos, quando um enfermeiro pica seu dedo com uma agulha suja de sangue infectado, por exemplo. O índice de contaminação nesses casos é de 0,30% a 0,40%, baixíssimo.

Há risco no tratamento dentário?
Pode ir ao dentista sem medo. Só existe um relato no mundo de um dentista que infectou o paciente.

Dividir objetos pessoais (escova de dente, sabonete) é arriscado?
Não há risco nenhum. Mas há risco de compartilhar brinquedos sexuais, como vibrador.

E banheiro público?
É impossível pegar o vírus assim.

Se cair na pele sangue contaminado, há risco de contaminação?
Não. A pele é uma barreira resistente e não absorve o vírus.

Doar sangue ou fazer exame de sangue oferece risco?
Se feitos com material descartável, ambos são totalmente seguros.

E compartilhar seringa?
Esse é o risco máximo de contágio. Não se deve compartilhar seringa nunca. Mesmo que a seringa seja lavada após o uso, há risco.

FORÇA DO VÍRUS

O risco de contágio é o mesmo para mulheres e homens?
O vírus tem uma transmissão mais eficiente do homem para a mulher do que da mulher para o homem, mas isso não significa que ele não pode ser infectado em uma única transa com uma mulher se transar sem camisinha.

Depois de quanto tempo uma pessoa que contraiu o vírus começa a ser transmissora?
Uma semana após a contaminação ela já tem vírus em quantidade suficiente no organismo para contaminar outras pessoas. E, nos primeiros dois meses após a contaminação, ela tem alta carga viral.

Depois de quanto tempo da contaminação é possível detectar o HIV em exames?
O teste mais comum (Elisa) detecta o vírus dois meses depois.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.