São Paulo, sábado, 9 de fevereiro de 2013

CAFUNÉ

Moeda de desejos

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Olho para os dois meninos, e eles estão com os bolsos estufados e pingando. Dá pra dizer que tem uma minipoça d'água ao lado de cada um.
Estamos em um restaurante chinês. As crianças de todas as mesas correm de lá para cá, geralmente em direção ao pequeno tanque onde as carpas gordas e coloridas nadam numa água rasa. No fundo, centenas de moedas de todos os valores refletem os muitos pedidos realizados naquele lugar.
Nos bolsos do Jorge e do Benja estão as moedas dos desejos alheios... E agora? O que fazer? Chineses olham rindo pelo vidro da entrada as duas crianças pescando moedas de barriga no chão. Outro pai está ali perto, sem saber se acha engraçado ou se dá bronca no filho dos outros. E eu, que sou a mãe de uma das pestes, sou obrigada a intervir.

- Gente, pegar moedinha da fonte dos desejos não é legal!
- Mas é pra colocar no meu cofrinho...
- E como é que fica o desejo de quem jogou a moeda aí? Não se realiza?
- É, bom, não sei direito...
- Devolve e volta para a mesa!

Voltam nada, é claro. Continuam lá, enfiando a mão na água dos peixes, caçando as benditas moedinhas. Depois, correm mais um pouco pelo salão, rolam e se escondem embaixo da mesa, faxinando com a camiseta limpa a sujeira do chão.
Finalmente se sentam à mesa e comem os tais dos rolinhos primavera, que a essa altura já estão quase gelados.

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