São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2012

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Fenômeno do ano

Escolas da vida real são tomadas por produtos e até maus exemplos de personagens de 'Carrossel'

Fotos Divulgação
No recreio da escola, Júlia brinca que é a Maria Joaquina, Victor faz papel de Cirilo e Dafne imita a Valéria

BRUNO MOLINERO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tudo estava normal quando Isabelly Alves, 5, chegou da escola. Seu pai lavava a moto, a avó cuidava da casa e a tia da perua escolar tinha estacionado no lugar de sempre.
Mas, quando abriram a porta para a menina descer, Isabelly estava desmaiada. Aí foi aquela confusão: a avó gritou, o pai correu, a tia da perua deixou o volante e até o pessoal do bar foi ver o que estava acontecendo. E Isabelly seguia toda molenga, de olhos fechados, sem mexer um músculo.
Foi só quando já estava dentro de casa que a menina abriu os olhos com uma piscadela: "É brincadeira!" Ela, na verdade, estava imitando uma cena da novela "Carrossel" (SBT), em que a personagem Carmem desmaia na escola. "Era teatrinho", contou à Folha. Com o sucesso de "Carrossel", fãs começaram a imitar os personagens e até cenas inteiras na escola. E nem sempre isso acaba bem. É o caso de Maria Eduarda Oliveira, 7.
Em uma aula de educação física, brigou de mentirinha com uma amiga. Tudo porque as personagens Marcelina e Valéria tinham discutido em um capítulo de "Carrossel". O problema é que o professor não sabia que aquilo tudo era ensaiado. "Ele ficou preocupado e quase mandou a gente para a diretoria", lembra a menina.
"As crianças sempre imitaram a ficção. Incorporar a briga da TV é entender os conflitos da vida", diz Silvia Colello, professora de psicologia da educação na USP. Para ela, a solução para o problema não é proibir as crianças de assistir à novela. "Se uma criança assiste apenas a desenhos educativos, não vai saber conversar com os amigos. O segredo é os pais ajudarem a criança a ser crítica com a TV", completa.
No colégio Renovação, por exemplo, os alunos só podem imitar "Carrossel" durante o recreio. "Eu sempre sou o Cirilo. É porque sou negro, né? Mas não gosto, ele é baixo astral", conta João Victor Dionisio, 9. Quando escuta isso, Júlia Morelli, 9, que imita a Maria Joaquina, logo faz biquinho: "Ai, Cirilo!", e todos caem na gargalhada.

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SUCESSO EM NÚMEROS

780 mil
é o número de casas na Grande São Paulo que assiste, em média, a cada capítulo de "Carrossel"

918 mil
eram as casas conectadas em 17/7, quando Maria Joaquina abraçou Cirilo

Dados do Ibope atualizados até 11/12

'Novela tem muita propaganda'

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Queria que 'Carrossel' não tivesse intervalo. Eles já fazem propaganda durante a história, por que param a novela para mais comercial?", reclama Gabriel Bisetto, 9.
Das 15 crianças entrevistadas pela Folha, todas disseram que já viram alguma propaganda feita por personagens na novela. O Conar, responsável por determinar regras para as propagandas, proíbe que crianças façam publicidade em programas de TV. Não é lei, mas as empresas costumam respeitar.
Desde que "Carrossel" começou, o Conar já julgou três casos de publicidade em capítulos da novela. O SBT perdeu todos os casos e foi orientado a não fazer mais esse tipo de merchandising (propaganda no meio da história). A emissora não quis comentar.
É certo que "Carrossel" virou uma mina de ouro para o SBT. Uma volta pela região da 25 de Março, rua de comércio em São Paulo, é suficiente para ver centenas de produtos da novela. Tem de tudo, tiaras, DVDs, fantasias e até RG dos personagens.
Nas escolas não é diferente. "Toda menina usa a tiara da Valéria", conta Amanda Felgueiras, 9, aluna do colégio Kampus.
(BM)

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