São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002
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QUÍMICA

Na química, a sorte tem um doce sabor

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sorte é muito importante em ciência. Os três adoçantes artificiais mais usados hoje em dia, por exemplo, foram descobertos por puro acaso. Veja só.
Era 1879 quando o químico Constantine Fahlberg, desrespeitando normas básicas de limpeza, jantava em seu laboratório. De repente, um susto: seu sanduíche estava doce! Fahlberg podia não ser muito limpo, mas era bom cientista. Logo percebeu que o gosto vinha de suas próprias mãos, que ele não tinha lavado antes de comer. Passou, então, a experimentar (!) todas as substâncias usadas em sua última experiência. Quando reconheceu o sabor, ele deu à substância o nome de sacarina (do latim "saccharium", açúcar).
A sacarina é tão doce que apenas quatro colheres de sopa dela bastam para dar um leve gosto açucarado à água de uma piscina olímpica! Como a sacarina não é metabolizada, não fornece calorias. Por isso não engorda.
Em 1937, o estudante de química Michael Sveda pesquisava um novo medicamento contra a febre. Fumante compulsivo, entre uma baforada e outra, ele sentiu que a fumaça tinha ficado doce. Investigou a origem do gosto até chegar a uma das substâncias que estava produzindo. Ele havia descoberto o ciclamato.
Nas últimas décadas, em razão de estudos sugerindo que a sacarina e o ciclamato causavam câncer em ratos, um novo adoçante ganhou muito espaço: o aspartame.
Em 1965, o cientista John Schlatter trabalhava na produção de um remédio contra a úlcera, quando houve uma explosão em seu laboratório. Substâncias espirraram, ensopando o químico. Mais tarde, para relaxar, ele foi ler um livro. Ao lamber o dedo para virar a página... Bem, nem é preciso dizer mais. Surgia o aspartame, que tem um poder calorífico igual ao do açúcar, mas não engorda, pois, sendo muito doce, é usado em quantidades mínimas.
O aspartame é geralmente tido como seguro, exceto para portadores de fenilcetonúria (diagnosticada, no bebê, pelo teste do pezinho). Quem tem essa doença não consegue metabolizar um aminoácido chamado fenilalanina, presente no aspartame. Em recém-nascidos que têm a doença, um nível elevado de fenilalanina no sangue pode causar retardamento mental. Em adultos, pode acontecer degeneração total do sistema nervoso. É por isso que muitas bebidas "light" trazem o alerta: "Fenilcetonúricos: contém fenilalanina".


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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