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QUÍMICA
Na química, a sorte tem um doce sabor
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sorte é muito importante em
ciência. Os três adoçantes artificiais mais usados hoje em dia,
por exemplo, foram descobertos
por puro acaso. Veja só.
Era 1879 quando o químico
Constantine Fahlberg, desrespeitando normas básicas de limpeza,
jantava em seu laboratório. De repente, um susto: seu sanduíche
estava doce! Fahlberg podia não
ser muito limpo, mas era bom
cientista. Logo percebeu que o
gosto vinha de suas próprias
mãos, que ele não tinha lavado
antes de comer. Passou, então, a
experimentar (!) todas as substâncias usadas em sua última experiência. Quando reconheceu o
sabor, ele deu à substância o nome de sacarina (do latim "saccharium", açúcar).
A sacarina é tão doce que apenas quatro colheres de sopa dela
bastam para dar um leve gosto
açucarado à água de uma piscina
olímpica! Como a sacarina não é
metabolizada, não fornece calorias. Por isso não engorda.
Em 1937, o estudante de química Michael Sveda pesquisava um
novo medicamento contra a febre. Fumante compulsivo, entre
uma baforada e outra, ele sentiu
que a fumaça tinha ficado doce.
Investigou a origem do gosto até
chegar a uma das substâncias que
estava produzindo. Ele havia descoberto o ciclamato.
Nas últimas décadas, em razão
de estudos sugerindo que a sacarina e o ciclamato causavam câncer em ratos, um novo adoçante
ganhou muito espaço: o aspartame.
Em 1965, o cientista John
Schlatter trabalhava na produção
de um remédio contra a úlcera,
quando houve uma explosão em
seu laboratório. Substâncias espirraram, ensopando o químico.
Mais tarde, para relaxar, ele foi ler
um livro. Ao lamber o dedo para
virar a página... Bem, nem é preciso dizer mais. Surgia o aspartame, que tem um poder calorífico
igual ao do açúcar, mas não engorda, pois, sendo muito doce, é
usado em quantidades mínimas.
O aspartame é geralmente tido
como seguro, exceto para portadores de fenilcetonúria (diagnosticada, no bebê, pelo teste do pezinho). Quem tem essa doença
não consegue metabolizar um
aminoácido chamado fenilalanina, presente no aspartame. Em
recém-nascidos que têm a doença, um nível elevado de fenilalanina no sangue pode causar retardamento mental. Em adultos, pode acontecer degeneração total
do sistema nervoso. É por isso
que muitas bebidas "light" trazem o alerta: "Fenilcetonúricos:
contém fenilalanina".
Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br
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