São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004
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QUÍMICA

"Aprenda" a manter o gás do seu refrigerante

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Férias, uma camiseta estranha e um aparelho "milagroso". O que essas três coisas têm em comum? Foi em um passeio de férias que vi, à venda, uma camiseta com a ilustração de uma garrafa de refrigerante com a seguinte explicação (na camiseta!): "ao abrir a garrafa, o gás escapa porque é menos denso que o ar. Para manter o gás, coloque uma colher com o cabo virado para dentro da garrafa". Surreal... Ao lado, o produto "milagroso": uma bombinha que é rosqueada na boca da garrafa de modo que você possa injetar ar lá dentro, impedindo que o gás saia. Muita gente comprava... Mas será que vale a pena?
Primeiro, temos que saber que o gás dissolvido nos refrigerantes é o gás carbônico (CO2). Uma porção dele reage com a água (CO2 + H2O H2CO3), mas a maior parte simplesmente permanece dissolvida. Na garrafa fechada, um pouco do gás também fica entre a superfície do líquido e a tampa, exercendo pressão de umas duas atmosferas. É só abrir a garrafa e ele escapa. De acordo com a camiseta, escapa porque é menos denso que o ar. Será?
A densidade (d) de um gás pode ser calculada pela fórmula: d = P (pressão) x massa molar / R (constante) x T (temperatura). Quando a garrafa é aberta, a pressão diminui para aproximadamente uma atmosfera (pressão atmosférica). Agora, com P, R e T constantes, a densidade depende diretamente da massa molar do gás. O CO2 pesa 44g/mol, enquanto o ar, 28,9g/mol. Portanto o CO2 é mais denso que o ar!
Então por que o gás escapa? Quem explica é a lei de Boyle (o volume do gás varia inversamente com a pressão): com a queda da pressão sobre o refrigerante, o gás aprisionado expande, escapando da garrafa.
E a bombinha? Não deixa mesmo o gás escapar? Veja o que diz a lei de Henry: "a uma temperatura fixa, a quantidade de gás que se dissolve em um líqüido depende diretamente da pressão que esse mesmo gás exerce sobre o líqüido". Viu só o negrito? Conclusão: para dissolvermos mais CO2 no refrigerante, teríamos de aumentar a pressão dele próprio dentro da garrafa. Como o CO2 que estava sobre o líqüido já era, o refrigerante perde gás mesmo. Simplesmente bombear ar -que contém bem pouco CO2- para dentro da garrafa não vai adiantar nada! A camiseta ainda pode servir para dormir, mas a bombinha...
Ah, sim! E a história da colher no gargalo? Bem, o que você acha?


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula7@terra.com.br


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