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QUÍMICA
"Aprenda" a manter o gás do seu refrigerante
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Férias, uma camiseta estranha e
um aparelho "milagroso". O
que essas três coisas têm em comum? Foi em um passeio de férias que vi, à venda, uma camiseta
com a ilustração de uma garrafa
de refrigerante com a seguinte explicação (na camiseta!): "ao abrir
a garrafa, o gás escapa porque é
menos denso que o ar. Para manter o gás, coloque uma colher com
o cabo virado para dentro da garrafa". Surreal... Ao lado, o produto "milagroso": uma bombinha
que é rosqueada na boca da garrafa de modo que você possa injetar
ar lá dentro, impedindo que o gás
saia. Muita gente comprava... Mas
será que vale a pena?
Primeiro, temos que saber que o
gás dissolvido nos refrigerantes é
o gás carbônico (CO2). Uma porção dele reage com a água (CO2 +
H2O H2CO3), mas a maior parte
simplesmente permanece dissolvida. Na garrafa fechada, um pouco do gás também fica entre a superfície do líquido e a tampa,
exercendo pressão de umas duas
atmosferas. É só abrir a garrafa e
ele escapa. De acordo com a camiseta, escapa porque é menos denso que o ar. Será?
A densidade (d) de um gás pode
ser calculada pela fórmula:
d = P (pressão) x massa molar / R
(constante) x T (temperatura).
Quando a garrafa é aberta, a pressão diminui para aproximadamente uma atmosfera (pressão
atmosférica). Agora, com P, R e T
constantes, a densidade depende
diretamente da massa molar do
gás. O CO2 pesa 44g/mol, enquanto o ar, 28,9g/mol. Portanto o CO2
é mais denso que o ar!
Então por que o gás escapa?
Quem explica é a lei de Boyle (o
volume do gás varia inversamente
com a pressão): com a queda da
pressão sobre o refrigerante, o gás
aprisionado expande, escapando
da garrafa.
E a bombinha? Não deixa mesmo o gás escapar? Veja o que diz a
lei de Henry: "a uma temperatura
fixa, a quantidade de gás que se
dissolve em um líqüido depende
diretamente da pressão que esse
mesmo gás exerce sobre o líqüido". Viu só o negrito? Conclusão:
para dissolvermos mais CO2 no
refrigerante, teríamos de aumentar a pressão dele próprio dentro
da garrafa. Como o CO2 que estava sobre o líqüido já era, o refrigerante perde gás mesmo. Simplesmente bombear ar -que contém
bem pouco CO2- para dentro da
garrafa não vai adiantar nada! A
camiseta ainda pode servir para
dormir, mas a bombinha...
Ah, sim! E a história da colher
no gargalo? Bem, o que você acha?
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula7@terra.com.br
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