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REDAÇÃO DO LEITOR
Falta de precisão compromete bons argumentos
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O texto se propõe contestar o
sistema de reserva de cotas
para estudantes negros e pardos nas universidades públicas.
Apresenta um argumento
bom, que, aliás, é o da maioria
dos que desaprovam a medida.
Considera a proposta uma
solução paliativa, que tenta camuflar a falta de investimento
no ensino básico na rede pública, razão última da disparidade
entre o número de estudantes
brancos e o de negros e pardos
no terceiro grau -a levarmos
em consideração que a boa
parte da população negra, vítima do círculo vicioso do preconceito, só resta freqüentar as
escolas estaduais e municipais.
Assim, seria justo que os alunos carentes em geral tivessem
acesso a essas cotas, o que deslocaria o debate da perspectiva
racial para a social.
Apesar de imbuído de um raciocínio coerente, o texto se
perde ao abordar superficialmente a questão do preconceito -como se ela se esgotasse
em possíveis palavras ou gestos
ofensivos. Do ponto de vista de
uma ação política, importa que
todas as pessoas tenham as
mesmas oportunidades e que não haja discriminação naquilo que é determinante para a sua vida (formação escolar, trabalho etc.). Não é o tratamento
cordial que se reivindica.
O sistema de cotas talvez busque antes a mobilização da sociedade em torno da questão, que ganha visibilidade, do que a solução definitiva para as distorções que ora presenciamos.
O texto não é eficaz na tentativa de desqualificar o argumento contrário, pois quem defende o sistema de cotas alega não a falta de capacidade de
alguns estudantes, mas a falta de oportunidades, essa sim
mascarada pelo vestibular.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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