São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002
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REDAÇÃO DO LEITOR

Falta de precisão compromete bons argumentos

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O texto se propõe contestar o sistema de reserva de cotas para estudantes negros e pardos nas universidades públicas. Apresenta um argumento bom, que, aliás, é o da maioria dos que desaprovam a medida.
Considera a proposta uma solução paliativa, que tenta camuflar a falta de investimento no ensino básico na rede pública, razão última da disparidade entre o número de estudantes brancos e o de negros e pardos no terceiro grau -a levarmos em consideração que a boa parte da população negra, vítima do círculo vicioso do preconceito, só resta freqüentar as escolas estaduais e municipais.
Assim, seria justo que os alunos carentes em geral tivessem acesso a essas cotas, o que deslocaria o debate da perspectiva racial para a social.
Apesar de imbuído de um raciocínio coerente, o texto se perde ao abordar superficialmente a questão do preconceito -como se ela se esgotasse em possíveis palavras ou gestos ofensivos. Do ponto de vista de uma ação política, importa que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades e que não haja discriminação naquilo que é determinante para a sua vida (formação escolar, trabalho etc.). Não é o tratamento cordial que se reivindica.
O sistema de cotas talvez busque antes a mobilização da sociedade em torno da questão, que ganha visibilidade, do que a solução definitiva para as distorções que ora presenciamos.
O texto não é eficaz na tentativa de desqualificar o argumento contrário, pois quem defende o sistema de cotas alega não a falta de capacidade de alguns estudantes, mas a falta de oportunidades, essa sim mascarada pelo vestibular.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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