São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002
  Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HISTÓRIA

Imigração: a necessidade e o risco

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após 1850, o fim da escravidão tornou-se inevitável. A partir de então, a aristocracia latifundiária brasileira, com mórbido pragmatismo, procurou prolongar ao máximo a vigência do sistema (para poder explorar o trabalho dos escravos restantes até a morte), tratou de se antecipar aos riscos da adoção do trabalho livre (aprovando a Lei de Terras, em 1850) e, finalmente, adotou medidas de apoio à imigração.
Até 1850, as terras no Brasil eram transferidas, por doações, do Estado aos proprietários e dos proprietários aos parentes. A Lei de Terras estabelecia que as posses deveriam ser legalizadas e só poderiam ser transferidas através de contratos de compra e venda (o que não era simples nem barato). Tais exigências visavam dificultar o acesso à propriedade da terra, induzindo o trabalhador livre imigrante a, necessariamente, empregar-se num latifúndio. Na prática, a lei impedia o surgimento de pequenos proprietários e garantia oferta de mão-de-obra livre à aristocracia, reafirmando o poder da grande propriedade, situação que permanece até hoje na nossa estrutura agrária.
Com relação à imigração, em 1847, tentou-se implementar um novo sistema de trabalho, a parceria. Nesse esquema, tanto os custos com o transporte do imigrante da Europa para o Brasil como as despesas com a fixação e a sobrevivência das famílias nas fazendas corriam por conta do fazendeiro e constituíam uma dívida dos imigrantes. Segundo as leis da época, as famílias não podiam abandonar a fazenda enquanto não as saldassem. Como o ganho que os parceiros obtinham na exploração do café nunca era suficiente para pagá-las, permaneciam cativos na fazenda quase como escravos brancos. Esse sistema não atraiu mais imigrantes e fracassou.
No começo da década de 1880, com o aumento das pressões contra a escravidão, criou-se um novo sistema, o colonato. No colonato, os gastos com transporte e as demais despesas não constituíam dívida da família imigrante e o sistema de remuneração era misto, composto por uma parte dos ganhos com a venda do café (como na parceria) e por um salário fixo anual. Além disso, as famílias podiam produzir parte dos gêneros de subsistência que consumiam e vender o excedente em mercados próximos. Esse sistema, um pouco mais vantajoso aos imigrantes, possibilitou a transição para o trabalho livre na agricultura brasileira.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC


Texto Anterior: Química: Carbono-14: uma máquina do tempo
Próximo Texto: Biologia: Problemas de saneamento básico: parte 2
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.