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VALE A PENA SABER
LITERATURA
Uma leitura para o vestibular e para a vida
THAIS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Neste ano, os vestibulares da
Fuvest e da Unicamp elegeram
uma mesma lista de leituras
obrigatórias para os aspirantes
a uma vaga na universidade.
Não poderia deixar de figurar
nessa lista uma obra do grande
clássico da literatura brasileira
que é Machado de Assis.
O romance machadiano escolhido pela banca foi "Dom
Casmurro", por muitos considerado a obra-prima do escritor. Quem tiver lido as "Memórias Póstumas de Brás Cubas"
não se surpreenderá com o
rompimento das normas tradicionais da narrativa já empreendido nessa primeira obra
da chamada fase realista de
Machado.
Em "Dom Casmurro", Machado continuará fazendo uso
dos capítulos curtos e digressivos, bem como da técnica da
metalinguagem, recursos que
obrigam o leitor a manter certo
distanciamento da matéria
narrada. Substitui-se a leitura
emotiva (aquela que envolvia o
leitor com os personagens a
ponto de passar a impressão
de que realidade e ficção pertenciam a um mesmo continuum) por uma leitura racional, orientada pelo pessimismo
do narrador também personagem principal.
O tema do romance é o adultério -de resto, um tema comum ao naturalismo (vejam-se
obras como "O Cortiço", de
Aluísio Azevedo, ou "O Crime
do Padre Amaro", de Eça de
Queirós, entre outras) , porém
tratado de forma diferente.
Ainda que a visão determinista
possa estar subjacente à história de Bentinho, Capitu e Escobar ("Se te lembras bem de Capitu menina, hás de reconhecer
que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca", dirá o narrador), o romance nada tem dos traços esquemáticos dos romances naturalistas. O autor não está a serviço
da defesa da tese determinista.
Esse romance, em particular,
é o grande representante do
realismo psicológico de Machado de Assis. Para além da questão do adultério, é enfocada
uma questão maior: o dilema
da dúvida, que, em maior ou
menor grau, assola a cada um
de nós e será, talvez, entre os temas universais, como vida,
morte, dor, paixão, o que mais
angustia o ser humano. Leitura
para o vestibular e para a vida.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO é autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e
"Uso da Vírgula" (Manole)
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