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HISTÓRIA
A cafeicultura e o surgimento da República
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O surgimento dos Partidos Republicanos em várias Províncias do Brasil ao longo das décadas de 1870 e 1880 e sua chegada
ao poder em 1889 deixam uma
pergunta intrigante. A proposta
republicana não era nova no país.
A Inconfidência Mineira, a
Conjuração Baiana, a Revolução
Pernambucana, de 1817, a Confederação do Equador e outras manifestações tinham tentado implantar e manter a República, mas
não conseguiram. Por que o movimento que surgiu na segunda
metade do século 19 foi bem-sucedido?
Uma parte da resposta é que,
pela primeira vez, o movimento
republicano ganhava o apoio de
uma fração poderosa da elite proprietária. Isso desequilibrou a balança de poder em beneficio dos
republicanos e contribuiu para
isolar e derrubar o império.
A partir da segunda metade do
século 19, a cafeicultura começou
a chegar a São Paulo e a espalhar-se pela região oeste. Em um primeiro momento, as fazendas de
café formadas no Estado trouxeram os escravos de outras áreas
do país, mas depois começaram a
recorrer ao trabalho do imigrante.
A terra vermelha e as relações de
trabalho livre proporcionavam alta produtividade, grãos de café de
ótima qualidade e altos preços no
mercado internacional.
Rapidamente, a oligarquia do
oeste paulista tornava-se a fração
mais rica e poderosa no interior
da elite. Esse grupo, porém, não se
conformava com o fato de os impostos arrecadados com a exportação do café irem para o governo
central, que operava tais recursos
da forma que lhe convinha.
A elite paulista desejava que esses recursos ficassem em São Paulo para serem aplicados e investidos em benefício da cafeicultura.
A elite tradicional, de raiz escravista, que controlava o Estado imperial, por sua vez, não pensava
em abrir mão desse dinheiro. Foi
essa divergência, basicamente,
que levou a elite cafeeira a apoiar
o movimento republicano, que
vinha crescendo desde 1870, com
a fundação do Partido Republicano no Rio e depois em São Paulo e
nas demais Províncias.
A quebra do consenso no interior da elite dominante abriu espaço para um projeto de reforma
mais profundo do que aquele que
o império estava disposto a empreender. Para a elite paulista, a
República era o único caminho
para redefinir o sistema de arrecadação, permitindo aos Estados
administrar os impostos obtidos
com as suas exportações. Em síntese, a República era o caminho
para a implantação do almejado
federalismo.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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