São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002
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HISTÓRIA

A cafeicultura e o surgimento da República

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O surgimento dos Partidos Republicanos em várias Províncias do Brasil ao longo das décadas de 1870 e 1880 e sua chegada ao poder em 1889 deixam uma pergunta intrigante. A proposta republicana não era nova no país.
A Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana, a Revolução Pernambucana, de 1817, a Confederação do Equador e outras manifestações tinham tentado implantar e manter a República, mas não conseguiram. Por que o movimento que surgiu na segunda metade do século 19 foi bem-sucedido?
Uma parte da resposta é que, pela primeira vez, o movimento republicano ganhava o apoio de uma fração poderosa da elite proprietária. Isso desequilibrou a balança de poder em beneficio dos republicanos e contribuiu para isolar e derrubar o império.
A partir da segunda metade do século 19, a cafeicultura começou a chegar a São Paulo e a espalhar-se pela região oeste. Em um primeiro momento, as fazendas de café formadas no Estado trouxeram os escravos de outras áreas do país, mas depois começaram a recorrer ao trabalho do imigrante. A terra vermelha e as relações de trabalho livre proporcionavam alta produtividade, grãos de café de ótima qualidade e altos preços no mercado internacional.
Rapidamente, a oligarquia do oeste paulista tornava-se a fração mais rica e poderosa no interior da elite. Esse grupo, porém, não se conformava com o fato de os impostos arrecadados com a exportação do café irem para o governo central, que operava tais recursos da forma que lhe convinha.
A elite paulista desejava que esses recursos ficassem em São Paulo para serem aplicados e investidos em benefício da cafeicultura. A elite tradicional, de raiz escravista, que controlava o Estado imperial, por sua vez, não pensava em abrir mão desse dinheiro. Foi essa divergência, basicamente, que levou a elite cafeeira a apoiar o movimento republicano, que vinha crescendo desde 1870, com a fundação do Partido Republicano no Rio e depois em São Paulo e nas demais Províncias.
A quebra do consenso no interior da elite dominante abriu espaço para um projeto de reforma mais profundo do que aquele que o império estava disposto a empreender. Para a elite paulista, a República era o único caminho para redefinir o sistema de arrecadação, permitindo aos Estados administrar os impostos obtidos com as suas exportações. Em síntese, a República era o caminho para a implantação do almejado federalismo.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br


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