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HISTÓRIA
A compreensão e as generalizações do outro mundo
CLAUDIO B. RECCO
ESPECIAL PARA A FOLHA
São todos índios, são todos negros, são todos árabes, são todos muçulmanos. Se eles não se
entendem, por que cabe a nós entendê-los? Essa questão simplória
sempre serviu de pretexto para a
intervenção dos "civilizados europeus" em outras sociedades,
aquelas consideradas atrasadas.
Nos dois últimos séculos, também é utilizada pelos EUA.
Generalizar é a forma encontrada por muitos para preservar a ignorância sobre outros povos e
culturas e, conseqüentemente, o
preconceito. A função da história
é oposta a isso: sua intenção é conhecer a origem das sociedades,
sua cultura, seu desenvolvimento
e suas contradições. Mas a "história" tem inimigos poderosos,
aqueles que querem e precisam
manter a ignorância como forma
de facilitar a dominação, inimigos
tão poderosos que praticamente
impedem que o ensino supere esse preconceito.
A história que aprendemos é
marcada por uma série de generalizações. Uma delas diz que "a
Mesopotâmia sempre foi uma região instável". Berço das mais antigas civilizações, região fértil situada entre os grandes rios Eufrates e Tigre, naturalmente foi um
território disputado por vários
povos. Nessa região, sucederam-se diversas guerras e diversos impérios, como o caldeu, o babilônico e o assírio, e disso decorre outra generalização bastante comum em nossa cultura: "A guerra
é natural, inerente ao homem".
Mas, para fazer essa generalização, é preciso esquecer-se de
olhar para os vários séculos de estabilidade no Egito ou em Creta. E
isso se nos detivermos apenas no
primeiro momento do aprendizado de nossa história, a Antigüidade oriental.
Em outros momentos da história, ocorreram guerras e conquistas, mas houve paz e prosperidade
também. Tanto os momentos de
guerra como os de paz podem ser
explicados e, para tanto, é preciso
estar disposto a refletir sobre suas
origens e sobre os interesses que
existem entre os membros, grupos e classes sociais que formam a
sociedade estudada, com todas as
suas contradições. Enfim, é necessário "entender o porquê das coisas", e essa compreensão pressupõe superar os preconceitos e estar aberto às novas descobertas,
desprezando as generalizações.
Dica: Compare os interesses que
existiam na Antigüidade com os
que existem hoje no Oriente Médio e tente entender de que maneira eles são determinados por
interesses socioeconômicos.
Claudio B. Recco é professor de história, autor do livro "História em Manchete
- O Início do Século" e coordenador do
site www.historianet.com.br.
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