ESPECIAL PARA A FOLHA

A montagem "Pólvora e Poesia" retrata um momento da vida dos poetas franceses Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, representantes do simbolismo, movimento literário do fim do século 19. O encontro de dois talentos diversos em sua gênese produziria não só poesia mas também pólvora. E literalmente.
Um verdadeiro embate de emoções uniria o poeta erudito, reconhecido nos salões franceses, ao quase adolescente com sua precocidade voluptuosa e bruta. Mas terminaria com Verlaine atirando no jovem Rimbaud, que sairia do episódio machucado -mais na alma que no corpo, no qual o tiro apenas resvalaria.
Verlaine, alvo da admiração de Rimbaud, hospedara em sua casa o jovem que com ele se correspondia. As atitudes provocadoras de Rimbaud ironizavam o modo burguês de vida e escandalizavam uma sociedade que, em febre de civilização, estetizava sua própria decadência.
A paixão nascida entre os dois viria a destruir o casamento de Verlaine e consumiria dois anos de suas vidas, durante os quais seus textos se influenciariam mutuamente, até que Verlaine decidisse voltar para a família. A dor do abandono levaria Rimbaud a renunciar à trajetória literária e a mergulhar numa vida dissoluta. Mas sua influência em toda a literatura do século 20 permaneceria.
Com diálogos baseados nos versos dos poetas, cheios da inquietação da vida e da arte, a peça não deixa arestas a aparar. Figurino, iluminação, cenário e música, assim como a atuação precisa dos atores e a interpretação certeira do pianista em cena, harmonizam-se surpreendentemente. O espetáculo merece ser visto por todos. Poesia não é só matéria de vestibular, é lição de vida.
(THAÍS NICOLETI DE CAMARGO)