São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002
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ILUSTRES DESCONHECIDOS

DESCONHECIMENTO E PRECONCEITO CAUSAM DESINTERESSE POR ALGUNS CURSOS DA USP

Esquecidos atraem menos de 0,5% dos inscritos

ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto algumas carreiras tradicionais da USP, como medicina, chegam a ter 12,8 mil candidatos, ou 8,8% do total de inscritos da Fuvest, outras, menos conhecidas, como biblioteconomia e ciências da Terra, não atraem nem 0,5% dos vestibulandos (veja quadro na página ao lado).
Mesmo sendo cursos relativamente antigos (biblioteconomia foi regulamentada em 1962, por exemplo, e o curso de editoração da USP existe há pelo menos 30 anos), alguns deles são desconhecidos dos jovens, que têm uma idéia errada do que são. Por desconhecerem essas carreiras, eles não se interessam por elas e, por causa da falta de interesse por elas, não buscam informações.
"O jovem escolhe sua carreira de acordo com a imagem que forma em sua cabeça a partir das informações que são passadas pela sociedade, pelo que ele vê durante sua vida", disse Silvio Bock, psicólogo e autor de "Orientação Profissional: Uma Abordagem Sócio-Histórica" (Editora Cortez).
Segundo ele, como não é comum que conheça geólogos ou bibliotecários, por exemplo, dificilmente o adolescente irá formar uma imagem positiva dessas carreiras e não procurará informações sobre elas. "No cinema e nas novelas, sempre há personagens médicos, advogados e engenheiros. Dificilmente há um terapeuta ocupacional", disse ele.
Outro fator que contribui para que algumas carreiras sejam pouco procuradas é justamente a pequena concorrência que elas acabam tendo nos vestibulares.
"Para o jovem, o vestibular é um ritual de passagem para a vida adulta. Apenas os mais fortes, os que conseguem ser aprovados, é que passam pelo ritual. Sendo mais difícil de entrar, o curso será mais valorizado. De que vale passar em um pouco concorrido?", disse Rosane Schotgues Levenfus, psicóloga e co-autora de "Orientação Vocacional Ocupacional" (Editora Artmed).
Para ela, os amigos também influem na decisão, pois a carreira escolhida seria uma forma de identificação do jovem com seu grupo. Escolhendo uma carreira com um prestígio menor, o vestibulando estaria indo na "contramão dos desejos da turma". "Apesar de achar que são autênticos, os adolescentes vão muito pelo grupo. Ele é medido pelo que veste, pelo corte de cabelo e também pelo curso que faz, porque há estereótipos das profissões."
Mesmo com pouca procura, dificilmente um curso da USP é extinto. "Não podemos acabar com um ramo do conhecimento. Mesmo cursos em que não há mais graduação de alguma forma foram incorporados por outros e as áreas de pesquisa continuam", disse Maria Vicentina do Amaral Dick, assessora da pró-reitoria de graduação da USP.
No caso do curso de economia doméstica, que participou do vestibular pela última vez em 1990, as vagas foram anexadas ao curso de nutrição, segundo Maria Vicentina. Outro exemplo é a graduação em sânscrito, que não existe mais, mas ainda há aulas da língua para os alunos do curso de letras.



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