|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ILUSTRES DESCONHECIDOS
DESCONHECIMENTO E PRECONCEITO CAUSAM DESINTERESSE POR ALGUNS CURSOS DA USP
Esquecidos atraem menos de 0,5% dos inscritos
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto algumas carreiras tradicionais da USP, como medicina, chegam a ter 12,8 mil candidatos, ou 8,8% do total de inscritos da Fuvest, outras, menos conhecidas, como biblioteconomia
e ciências da Terra, não atraem
nem 0,5% dos vestibulandos (veja
quadro na página ao lado).
Mesmo sendo cursos relativamente antigos (biblioteconomia
foi regulamentada em 1962, por
exemplo, e o curso de editoração
da USP existe há pelo menos 30
anos), alguns deles são desconhecidos dos jovens, que têm uma
idéia errada do que são. Por desconhecerem essas carreiras, eles
não se interessam por elas e, por
causa da falta de interesse por
elas, não buscam informações.
"O jovem escolhe sua carreira
de acordo com a imagem que forma em sua cabeça a partir das informações que são passadas pela
sociedade, pelo que ele vê durante
sua vida", disse Silvio Bock, psicólogo e autor de "Orientação Profissional: Uma Abordagem Sócio-Histórica" (Editora Cortez).
Segundo ele, como não é comum que conheça geólogos ou
bibliotecários, por exemplo, dificilmente o adolescente irá formar
uma imagem positiva dessas carreiras e não procurará informações sobre elas. "No cinema e nas
novelas, sempre há personagens
médicos, advogados e engenheiros. Dificilmente há um terapeuta
ocupacional", disse ele.
Outro fator que contribui para
que algumas carreiras sejam pouco procuradas é justamente a pequena concorrência que elas acabam tendo nos vestibulares.
"Para o jovem, o vestibular é um
ritual de passagem para a vida
adulta. Apenas os mais fortes, os
que conseguem ser aprovados, é
que passam pelo ritual. Sendo
mais difícil de entrar, o curso será
mais valorizado. De que vale passar em um pouco concorrido?",
disse Rosane Schotgues Levenfus,
psicóloga e co-autora de "Orientação Vocacional Ocupacional"
(Editora Artmed).
Para ela, os amigos também influem na decisão, pois a carreira
escolhida seria uma forma de
identificação do jovem com seu
grupo. Escolhendo uma carreira
com um prestígio menor, o vestibulando estaria indo na "contramão dos desejos da turma".
"Apesar de achar que são autênticos, os adolescentes vão muito pelo grupo. Ele é medido pelo que
veste, pelo corte de cabelo e também pelo curso que faz, porque há
estereótipos das profissões."
Mesmo com pouca procura, dificilmente um curso da USP é extinto. "Não podemos acabar com
um ramo do conhecimento. Mesmo cursos em que não há mais
graduação de alguma forma foram incorporados por outros e as
áreas de pesquisa continuam",
disse Maria Vicentina do Amaral
Dick, assessora da pró-reitoria de
graduação da USP.
No caso do curso de economia
doméstica, que participou do vestibular pela última vez em 1990, as
vagas foram anexadas ao curso de
nutrição, segundo Maria Vicentina. Outro exemplo é a graduação
em sânscrito, que não existe mais, mas ainda há aulas da língua para
os alunos do curso de letras.
Texto Anterior: Fique atento: Férias na USP Próximo Texto: Caminho das pedras Índice
|