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DEU NA MÍDIA
Honduras e a democracia na América Latina
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
A posição inflexível do presidente norte-americano,
Barack Obama, condenando
o golpe de Estado em Honduras abre um novo capítulo
na história política dos EUA
e da América Latina.
Obama, ao declarar o seu
apoio ao presidente eleito,
Manuel Zelaya, reafirma o
seu compromisso com a democracia e rompe uma tradição de apoio norte-americano a ditaduras e governos ilegítimos, no continente.
A tradicional política norte-americana teve seu exemplo mais recente em abril de
2002, durante o golpe militar
contra o presidente eleito da
Venezuela, Hugo Chávez.
Ao anunciar o afastamento
de Chávez, os militares deram posse ao empresário Pedro Carmona. De imediato, o
presidente George W. Bush
reconheceu o novo governo.
Não fosse o protesto de milhares de cidadãos vindos
dos bairros mais pobres de
Caracas, Chávez teria sido
derrubado com o apoio da
Casa Branca.
País com um longo histórico de golpes militares, Honduras conquistou certa estabilidade política a partir dos
anos de 1980, sempre com o
apoio de Washington.
Com a vitória da FSLN
(Frente Sandinista de Libertação Nacional) na Nicarágua, em 1979, que derrubou a
ditadura Somoza, havia o temor de que o modelo socialista se espalhasse pela América Central num autêntico
"efeito dominó".
Alarmado, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan (1981-1989), financiou os
"contras" (antissandinistas)
que a partir de Honduras
atacavam a Nicarágua.
Décadas de estreitas relações entre EUA-Honduras
culminaram com a assinatura de um acordo bilateral de
livre comércio (Cafta, em inglês) em 2006. Razão pela
qual Zelaya aposta na pressão da Casa Branca e do presidente Obama para ser reconduzido à Presidência.
Zelaya, eleito em 2005
contrariando as determinações do Congresso, decidiu
convocar um referendo para
mudar a Constituição e aprovar a reeleição. Ao insistir na
decisão, contra a orientação
da Corte Suprema que proibiu a consulta, o presidente
foi preso e expulso do país.
Com o aval das Forças Armadas, assumiu em seu lugar
Roberto Micheletti, do Partido Liberal, sob argumento de
que "aceita" a missão para
proteger a democracia,
ameaçada pelo esquerdismo
do ex-presidente.
Sob pressão, mas disposto
a enfrentar os EUA, Micheletti resiste. Posto no centro
do tumulto, o presidente
americano agora terá de convencer seus críticos mais intransigentes de que defender
a democracia e o retorno de
Zelaya não é o mesmo que fazer o jogo de Hugo Chávez e,
tampouco, endossar sua revolução bolivariana.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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