|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HISTÓRIA
A vitória do mercado mais amplo
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No século 19, a Inglaterra desempenhava o papel de grande
potência econômica e, não por
acaso, patrocinava o discurso liberal de livre comércio e de abertura de mercados. Tal discurso
criou uma série de conflitos com o
Brasil.
Desde a transferência da corte
para o Brasil, a Inglaterra vinha
pressionando por medidas liberalizantes na área de comércio exterior do país. Depois da independência, as pressões continuaram,
mas tenderam a se concentrar numa questão crucial para a elite escravista brasileira, o tráfico de escravos.
Para a Inglaterra, o fim do tráfico para o Brasil era a primeira etapa do fim da escravidão e criava as
condições, a médio e a longo prazo, para a generalização do trabalho livre, para a divisão social do
trabalho e para a constituição de
um mercado mais amplo no país.
Para a elite governante nativa,
constituída de proprietários de
escravos ou de traficantes, as
pressões inglesas conspiravam
contra os fundamentos de seu poder e de sua riqueza, daí serem as
negociações sempre delicadas.
Logo após a independência, foram assinados acordos que prometiam para dali a alguns anos a
assinatura de uma lei que pusesse
fim ao tráfico. Tal lei foi aprovada
em 1831, mas nunca foi cumprida
pelos traficantes nem fiscalizada
pelo governo. Apesar de ser apenas uma "lei para inglês ver", algumas autoridades nativas percebiam os problemas que essa situação poderia provocar... "Acima
de tudo, o pior de todos esses males é a imoralidade que resulta de
habituarem-se os nossos cidadãos a violar as leis debaixo das
vistas das próprias autoridades."
Diante da indiferença das autoridades, as pressões inglesas intensificaram-se. Em 1845, o Parlamento inglês resolveu aprovar o
"Bill Aberdeen", que determinava
a extinção do tráfico internacional de escravos. A Marinha britânica assumia o compromisso de
apreender ou afundar os navios
destinados ao tráfico. Vários navios brasileiros foram apreendidos e afundados, o que colocava o
país na iminência de declarar
guerra à Inglaterra.
Como isso não era viável, o governo reclamou muito, mas, finalmente, cedeu. Em 1850, aprovou a
Lei Eusébio de Queirós, e o tráfico
para o Brasil foi extinto. A partir
de então, a implantação de relações de trabalho livre e a criação
de uma economia tipicamente capitalista tornaram-se apenas uma
questão de tempo.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
Texto Anterior: Química: Elas explodem, mas também salvam vidas Próximo Texto: Biologia: O que significa o termo "fouling"? Índice
|