São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009
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DEU NA MÍDIA

Com Funes, FMLN chega ao poder em El Salvador

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde a Revolução Sandinista de 1979, que trouxe a experiência socialista para a Nicarágua em plena Guerra Fria, a América Central não ocupava com destaque o noticiário internacional. Mas a região retornou às manchetes dos principais jornais do mundo, em razão da crise que convulsiona Honduras e, mais recentemente, com a vitória de Mauricio Funes, da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) para a presidência de El Salvador. O destaque para a eleição de Funes não decorre do fato de ser mais um governo de esquerda na América Latina, tampouco de o novo presidente ser um ex-repórter da CNN (rede de TV norte-americana), casado com Vanda Pignato, uma brasileira ex-militante do PT (Partido dos Trabalhadores) que será a primeira-dama do país, mas, principalmente, porque a FMLN, grupo guerrilheiro que participou da guerra civil salvadorenha entre 1980 a 1992, chegou ao poder após uma eleição democrática. Vale lembrar que a FMLN inspira-se no herói nacional salvadorenho Agustín Farabundo Martí, um dos fundadores do Partido Comunista e líder da insurreição popular dos camponeses indígenas na década de 1930. Martí foi fuzilado em 1932 pelos militares. A guerra civil, que deixou um saldo de mais de 70 mil mortos em El Salvador, surgiu no contexto da Guerra Fria com o assassinato, em março de 1980, do arcebispo de San Salvador, monsenhor Oscar Romero, enquanto celebrava missa em defesa dos direitos humanos. Dom Romero, como era conhecido, se alinhava às teses da Teologia da Libertação, que defendia que a Igreja Católica deveria fazer a "opção pelos pobres". Na época, os EUA, sob a presidência de Ronald Reagan (1980-1988), temiam que o triunfo da FMLN trouxesse para a região o socialismo inspirado na Revolução Cubana de 1959. A junta militar que ocupou o poder a partir de 1979 mantinha estreitas relações com a Arena (Aliança Republicana Nacionalista) de Roberto D'Aubuisson, responsável pela violência que vitimou milhares de salvadorenhos. Em 1992, a assinatura do Tratado de Chapultepec (México) pôs fim à guerra civil e marcou a entrada do antigo grupo guerrilheiro na arena política como um partido oficial. Dezoito anos depois, a FMLN chega à presidência com Mauricio Funes, que não participou da guerra civil, não foi guerrilheiro e não fala em socialismo. Na política do continente, declarou-se distante de Caracas e próximo do eixo Brasília-Santiago -portanto, longe de Hugo Chávez (Venezuela) e em sintonia com Lula e Michelle Bachelet (Chile).

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile

rcandelori@uol.com.br

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