|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEU NA MÍDIA
Com Funes, FMLN chega ao poder em El Salvador
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Desde a Revolução Sandinista de 1979, que trouxe a
experiência socialista para a
Nicarágua em plena Guerra
Fria, a América Central não
ocupava com destaque o noticiário internacional.
Mas a região retornou às
manchetes dos principais
jornais do mundo, em razão
da crise que convulsiona
Honduras e, mais recentemente, com a vitória de Mauricio Funes, da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) para a
presidência de El Salvador.
O destaque para a eleição
de Funes não decorre do fato
de ser mais um governo de
esquerda na América Latina,
tampouco de o novo presidente ser um ex-repórter da
CNN (rede de TV norte-americana), casado com
Vanda Pignato, uma brasileira ex-militante do PT (Partido dos Trabalhadores) que
será a primeira-dama do
país, mas, principalmente,
porque a FMLN, grupo guerrilheiro que participou da
guerra civil salvadorenha entre 1980 a 1992, chegou ao
poder após uma eleição democrática.
Vale lembrar que a FMLN
inspira-se no herói nacional
salvadorenho Agustín Farabundo Martí, um dos fundadores do Partido Comunista
e líder da insurreição popular dos camponeses indígenas na década de 1930.
Martí foi fuzilado em 1932
pelos militares.
A guerra civil, que deixou
um saldo de mais de 70 mil
mortos em El Salvador, surgiu no contexto da Guerra
Fria com o assassinato, em
março de 1980, do arcebispo
de San Salvador, monsenhor
Oscar Romero, enquanto celebrava missa em defesa dos
direitos humanos.
Dom Romero, como era
conhecido, se alinhava às teses da Teologia da Libertação, que defendia que a Igreja Católica deveria fazer a
"opção pelos pobres".
Na época, os EUA, sob a
presidência de Ronald Reagan (1980-1988), temiam que
o triunfo da FMLN trouxesse para a região o socialismo
inspirado na Revolução Cubana de 1959.
A junta militar que ocupou
o poder a partir de 1979 mantinha estreitas relações com
a Arena (Aliança Republicana Nacionalista) de Roberto
D'Aubuisson, responsável
pela violência que vitimou
milhares de salvadorenhos.
Em 1992, a assinatura do
Tratado de Chapultepec
(México) pôs fim à guerra civil e marcou a entrada do antigo grupo guerrilheiro na
arena política como um partido oficial.
Dezoito anos depois, a
FMLN chega à presidência
com Mauricio Funes, que
não participou da guerra civil, não foi guerrilheiro e não
fala em socialismo. Na política do continente, declarou-se distante de Caracas e próximo do eixo Brasília-Santiago -portanto, longe de Hugo
Chávez (Venezuela) e em
sintonia com Lula e Michelle
Bachelet (Chile).
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
Texto Anterior: Redação: Dissertação deve valorizar a discussão Próximo Texto: Vestibular: Unesp anula pergunta de matemática do 1ª dia de prova Índice
|