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VALE A PENA SABER / ATUALIDADES
Vinte anos da Constituição Cidadã
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Promulgada no dia 5 de outubro de 1988, a atual Constituição da República Federativa do
Brasil completa 20 anos. Aclamada por muitos como o documento fundamental responsável pela consolidação do Estado
de Direito e da democracia no
país, é contestada por outros
que a reputam excessivamente
detalhista, longa e, do ponto de
vista econômico, arcaica.
Substituindo a Constituição
promulgada no ano de 1967, na
vigência do regime militar, a
nova Carta começou a ser gestada ao término desse período e
foi um marco no processo de
redemocratização.
As aspirações por um país democrático exigiam a elaboração de uma nova Constituição.
Essa tese foi tomando corpo
com o movimento das "Diretas
Já" -uma mobilização nacional gigantesca que em 1984 tomou as ruas do país-, que exigia o restabelecimento do voto
direto para a escolha do sucessor do general Figueiredo.
Em seguida, a vitória de Tancredo Neves (1910-1985), do
PMDB, no Colégio Eleitoral em
janeiro de 1985, encerrava os
anos de autoritarismo e pavimentava o terreno para a elaboração da nova Carta.
Eleita em 1986, a Assembléia
Nacional Constituinte contou
com 559 membros (72 senadores e 487 deputados), sob o comando do deputado do PMDB
Ulysses Guimarães (1916-1992). Sintetizada em 245 capítulos, a Carta foi o resultado de
18 meses de incansáveis debates e confrontos entre o Centrão e a bancada progressista.
O chamado Centrão era um
megabloco suprapartidário
conservador liderado pelos deputados do então PFL (hoje
Democratas) Roberto Cardoso
Alves e José Loureiro. A ala
progressista estava representada por Mário Covas, líder do
PMDB, Fernando Henrique
Cardoso, Luiz Inácio Lula da
Silva e Florestan Fernandes,
entre outros.
A Constituição Cidadã, como
ficou conhecida por seu forte
comprometimento com as
questões sociais, legou ao Brasil, de forma pacífica, a transição de um regime autoritário
para o Estado democrático de
Direito. Contemplou em suas
linhas significativos avanços
como o direito ao voto de analfabetos e maiores de 16 anos.
Tornou o racismo um crime
"inafiançável e imprescritível"
e permitiu, a partir da sua interpretação, a implantação de
políticas de ações afirmativas.
Além disso, garantiu ao Ministério Público -uma instituição independente dos Poderes- condições para vigiar o
Estado em defesa dos interesses da sociedade. Assegurou
ainda as liberdades plenas, entre elas, a de expressão e o direito à informação.
Como uma obra aberta, a
Carta de 1988 continua como
nasceu, um documento inacabado. Se não é um exemplo de
perfeição, tão pouco um monstro construído de sucatas, um
Frankenstein, como afirmam
seus mais ardorosos críticos.
Nossa Constituição Cidadã é
apenas uma obra que continua
em construção.
ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio
Móbile
rcandelori@uol.com.br
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