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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
O fanatismo religioso e o fim do mundo
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na virada do ano de 1999 para
2000, uma seita de fanáticos
religiosos, sediada nos EUA,
anunciou o fim do mundo para o
dia 1º de janeiro de 2000, um sábado. Confirmado o equívoco, um
porta-voz da seita informou que
novos cálculos indicavam o Dia
do Juízo Final em um domingo 1º
de janeiro do último ano de um
século. Façamos alguns cálculos
para descobrir qual, afinal de contas, será o Dia do Juízo Final, segundo essa seita.
Em 1582, para melhorar a precisão do calendário, o papa Gregório 13º decretou que, em vez de
haver sempre um ano bissexto
(ano com 366 dias) de quatro em
quatro anos, seria feita uma exceção para todos os anos que fossem múltiplos de 100 e não fossem divisíveis por 400. Dessa forma, 2000 e 2400 são anos bissextos, mas os anos 2100, 2200 e 2300
não o são, apesar de serem divisíveis por 4. Consideremos que,
num período de cem anos, que vai
de 1º de janeiro de 2000 até 1º de
janeiro de 2100, temos 25 anos
bissextos, ou seja, 36.525 dias, o
que é equivalente a 5.217 semanas
e seis dias. Como 1º de janeiro de
2000 foi um sábado, somamos
seis dias e saberemos que 1º de janeiro de 2100 será uma sexta.
De 1º de janeiro de 2100 até 1º de
janeiro de 2200, como nosso ponto de partida e de chegada não são
anos bissextos, devido ao ajuste
estabelecido pelo papa, temos um
total de 24 anos bissextos, ou seja,
36.524 dias, o que é equivalente a
5.217 semanas e cinco dias. Como
1º de janeiro de 2100 será uma sexta-feira, avançando cinco dias, sabemos que 1º de janeiro de 2200
será uma quarta-feira.
Generalizando a regra no intervalo analisado, se partirmos de
um ano bissexto e chegarmos a
um ano não-bissexto, avançaremos seis dias. Se, por outro lado,
os anos de partida e de chegada
não forem bissextos, avançaremos cinco dias. Sem muito esforço, poderemos concluir que 1º de
janeiro de um ano que antecede o
início de um século (2000, 2100,
2200,...) nunca poderá ser um domingo, como afirma a seita. A
matemática acaba de nos mostrar
que mais uma vez estamos diante
de um blefe apocalíptico.
José Luiz Pastore Mello é professor da
Faculdade de Educação da USP. E-mail:
jlpmello@uol.com.br
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