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REDAÇÃO DO LEITOR
Estudante opta por texto simples e objetivo
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A proposta de redação solicitava dos estudantes uma reflexão sobre essa espécie de patriotismo de ocasião que se vê
durante a Copa do Mundo.
Muita coisa poderia ser dita,
mas o que parece ter sido a tônica daqueles que enviaram
seus textos para a seção "Redação do Leitor" foi a crítica política, refletida no descrédito em
relação ao país e aos políticos,
em claro contraponto com a
atitude patriota dos torcedores
brasileiros.
Ninguém analisou o papel da
mídia na produção do espetáculo e das emoções, o que poderia dar um bom debate. A necessidade de heróis também
não foi abordada. De modo geral, os textos, cada qual a seu
modo, apresentaram um problema de concepção: foram
produzidos para agradar ao
examinador. Alguns usaram o
velho truque de buscar palavras pouco comuns no dia-a-dia, outros recorreram às citações e à demonstração de leitura de jornais; houve ainda
quem remontasse à escravidão
e à origem dos conflitos étnicos
nacionais, reproduzindo uma
aula de história do Brasil, todos
com o objetivo de mostrar uma
determinada competência. Até
mesmo o tom crítico, às vezes
beirando a retórica, parecia
uma estratégia para agradar,
pressupondo-se, naturalmente, que o examinador queira ouvir críticas ao governo, alguma
prova de que há preocupação
com os problemas sociais etc.
O fato é que o texto que realmente agrada é aquele que não
se preocupa em agradar. É
aquele que discute o tema com
objetividade e autonomia, é
aquele em que aparece o envolvimento do autor com seu objeto, aquele em que a questão-tema é valorizada.
O texto escolhido para o comentário tem o mérito de não
cair nos exageros do discurso
panfletário. Demonstra certo
descrédito ante o patriotismo
exacerbado num país que se revela indolente diante de seus
problemas. Não condena a atitude nacionalista, mas pondera
que esse sentimento pode levar
à alienação, à falta de perspectiva crítica. Enfim, conclui conclamando os brasileiros à luta
por um país melhor. Fica nas
entrelinhas a idéia de que o excesso de importância que se
deu ao evento esportivo pode
ser um sintoma de que tudo o
mais vai mal.
De modo geral, o texto está
bem organizado. O título,
entretanto, poderia ser mais
criativo.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e
"Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha
Online e do site gazetaweb.globo.com/
thaisncamargo@uol.com.br
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