São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006
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REDAÇÃO DO LEITOR

Estudante opta por texto simples e objetivo

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A proposta de redação solicitava dos estudantes uma reflexão sobre essa espécie de patriotismo de ocasião que se vê durante a Copa do Mundo. Muita coisa poderia ser dita, mas o que parece ter sido a tônica daqueles que enviaram seus textos para a seção "Redação do Leitor" foi a crítica política, refletida no descrédito em relação ao país e aos políticos, em claro contraponto com a atitude patriota dos torcedores brasileiros. Ninguém analisou o papel da mídia na produção do espetáculo e das emoções, o que poderia dar um bom debate. A necessidade de heróis também não foi abordada. De modo geral, os textos, cada qual a seu modo, apresentaram um problema de concepção: foram produzidos para agradar ao examinador. Alguns usaram o velho truque de buscar palavras pouco comuns no dia-a-dia, outros recorreram às citações e à demonstração de leitura de jornais; houve ainda quem remontasse à escravidão e à origem dos conflitos étnicos nacionais, reproduzindo uma aula de história do Brasil, todos com o objetivo de mostrar uma determinada competência. Até mesmo o tom crítico, às vezes beirando a retórica, parecia uma estratégia para agradar, pressupondo-se, naturalmente, que o examinador queira ouvir críticas ao governo, alguma prova de que há preocupação com os problemas sociais etc. O fato é que o texto que realmente agrada é aquele que não se preocupa em agradar. É aquele que discute o tema com objetividade e autonomia, é aquele em que aparece o envolvimento do autor com seu objeto, aquele em que a questão-tema é valorizada. O texto escolhido para o comentário tem o mérito de não cair nos exageros do discurso panfletário. Demonstra certo descrédito ante o patriotismo exacerbado num país que se revela indolente diante de seus problemas. Não condena a atitude nacionalista, mas pondera que esse sentimento pode levar à alienação, à falta de perspectiva crítica. Enfim, conclui conclamando os brasileiros à luta por um país melhor. Fica nas entrelinhas a idéia de que o excesso de importância que se deu ao evento esportivo pode ser um sintoma de que tudo o mais vai mal. De modo geral, o texto está bem organizado. O título, entretanto, poderia ser mais criativo.


THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e "Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha Online e do site gazetaweb.globo.com/ thaisncamargo@uol.com.br


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