São Paulo, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1999
 
 

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ENEM + VESTIBULAR
Enem "cria" vestibulandos


Aumento no número de inscritos é atribuído ao uso da nota da prova do MEC


TIAGO GOMES DE MELLO
da Reportagem Local

Quando a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) anunciou a prorrogação do prazo de inscrições para seu exame, devido ao aumento na demanda, uma questão começou a ser feita. Afinal, quais seriam os motivos pelos quais mais de 149 mil pessoas estão no vestibular contra um recorde anterior de pouco mais de 140 mil, em 1994?
O número de inscritos da Unicamp mostrou a mesma tendência: foram 42.732 inscritos, o que representa um aumento de 12% em relação ao ano passado.
Maria Bernadete Marques Abaurre, coordenadora do vestibular da Unicamp, acredita que o uma das explicações para este aumento pode estar na adoção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como uma das formas de avaliação das universidades.
O vice-diretor da Fuvest, José Atílio Vanin, 54, concorda: "Os alunos que foram bem na avaliação ficam mais motivados", diz.
Caroline Perine, 18, que tenta agronomia, acredita que ficou bem mais fácil entrar na faculdade para quem foi bem no Enem.

Qualificação
Na opinião de Vanin, além do Enem, as inscrições estão aumentando por causa de uma mudança na sociedade. "As pessoas estão valorizando cada vez mais o estudo", diz.
João Marcos Varella, consultor estatístico da DBM do Brasil (empresa de consultoria que trabalha com recolocação profissional), acredita que a primeira causa para o aumento de inscrições é demográfica. Ele aponta a explosão populacional ocorrida no final dos anos 70 e começo dos anos 80 como um fator fundamental no fenômeno que é observado hoje.
Varella concorda, no entanto, que o mercado exige educação hoje em dia. "Qualquer atividade requer qualificação", diz.
Fabrício Loureiro da Silva, 20, que vai prestar vestibular para medicina, é um exemplo dessa procura pela qualificação.
O pai de Silva é técnico em radiologia em Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro. Ele conseguiu viver bem, mas nunca teve a oportunidade de fazer um curso universitário.
Se Silva for aprovado, vai estar tendo a oportunidade de trabalhar em uma área próxima à do pai, mas com qualificação mais completa.
"Quero entrar na faculdade de medicina por mim e por ele. Meu pai veio do nada e quero levantar o que ele já fez e levar para frente."
Essa tendência mostrada no caso de Silva -de os filhos terem acesso ao ensino que os seus pais não tiveram- pode ser observada nas estatísticas da Fuvest: 36,3% dos pais dos candidatos no ano passado haviam feito ensino superior. No caso das mães dos candidatos, 44,1% delas concluiu a faculdade.
A candidata ao curso de direito Beatriz Turra, 19, diz que a pessoa que tem faculdade está sempre em posição privilegiada na hora de procurar um emprego. "Com o passar do tempo, está aumentando o número de pessoas que tenta, mas não consegue entrar em um vestibular como o da Fuvest. Isso porque todos vêem a importância da faculdade", diz.
A mãe de Beatriz, Glanda, diz que a filha vai ter a oportunidade de estudar que ela não teve.
Ela aponta que hoje é uma praxe comum as mulheres fazerem faculdade. "No tempo em que eu estudava, as mulheres não faziam faculdade como hoje", diz.
Glanda completa: "O meu marido também conseguiu sustentar a casa normalmente tendo feito só até o 2º grau. Foi uma vida bem dura, mas hoje temos cinco filhos que fazem faculdade, além da Beatriz, que está se candidatando agora", diz. "Além disso, acho que é fundamental continuar estudando, mesmo depois da faculdade. A gente vê que é importante conseguir fazer cursos."
Carolina de Souza vai tentar entrar em jornalismo e vive uma realidade parecida com a de Beatriz e de Silva. "Meu pai e minha mãe não fizeram universidade, mas sem diploma hoje em dia é quase impossível conseguir emprego. Já é difícil com diploma, imagine como é para uma pessoa sem estudo obter trabalho."


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