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ARTIGO
O que pensam os educadores sobre o ensino de matemática?
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Apesar de não haver consenso entre os educadores em
relação à principal causa do
mau desempenho dos alunos
nas áreas de exatas, alguns
pontos importantes merecem
destaque nessa discussão.
Em primeiro lugar, vale a pena dizer que a educação brasileira vai mal de modo geral e
isso não é um privilégio das
áreas de exatas. Apenas para
ilustrar a situação, anos atrás
uma universidade propôs uma
dissertação sobre o tema: "O
lazer e a vida do homem moderno". O tema teria sido um
sucesso, não fosse o fato de
quase metade dos candidatos
terem dissertado sobre o impacto do uso do laser na vida
do homem moderno, citando
com convicção a cirurgia de
miopia, aparelhos de CD etc.
Se, por um lado, o desdobramento da confusão entre lazer
e laser não passou de motivo
de piadas entre os estudantes,
por outro, não saber resolver
uma equação quadrática vira
freqüentemente bandeira de
luta contra a cruel matemática.
Uma primeira questão que
merece ser esclarecida para os
estudantes diz respeito à suposta idéia de que as ciências
exatas, em particular a matemática, são mais difíceis que as
demais áreas do conhecimento porque trabalham com raciocínio abstrato. Apesar de
encontrarmos inúmeros defensores dessa linha de raciocínio, devo alertar que existem
outros educadores que analisam a questão de outro ponto
de vista. De acordo com esse
segundo grupo, o raciocínio
abstrato não é privilégio da
matemática, mas, sim, do ato
humano de pensar sobre qualquer que seja a área do conhecimento.
Dessa forma, seja na construção de uma poesia, na elaboração de um mapa cartográfico ou na resolução de um sistema de equações, estamos
sempre trabalhando com abstrações. Os defensores dessa linha de raciocínio diriam que
não há justificativa para dizermos que a idéia de operação
entre frações é mais ou menos
abstrata que a representação
da capital federal no mapa do
Brasil por um ponto. Ambas as
representações são construções feitas a partir da capacidade humana de abstração.
Se a dificuldade de aprendizagem não se encontra propriamente no caráter abstrato
das ciências exatas, então qual
seria outro fator relevante para
refletirmos sobre a questão?
Apesar de também não haver
consenso nas respostas a essa
questão, alguns educadores
acreditam que a matemática se
tenha tornado a vilã dos vestibulares porque, da forma como vem sendo cobrada nesses
exames, exige excessivo conhecimento cumulativo por
parte do estudante. Exemplificando o que quero dizer, um
aluno que nunca tenha estudado as capitanias hereditárias
talvez esteja apto a responder a
uma questão sobre a Proclamação da República, desde
que tenha estudado esse assunto. Em relação à matemática, salvo exceções como a prova do Enem, da forma como os
vestibulares tradicionais vêm
tratando essa disciplina, dificilmente um aluno estaria apto
a resolver uma equação trigonométrica sem dominar bem
todas as operações com os números reais.
O estudante deve, portanto,
procurar dar mais atenção em
seu estudo à qualidade do que
à quantidade. Uma boa reflexão sobre um único exercício
pode fixar mais uma idéia do
que um olhar superficial sobre
dez.
José Luiz Pastore Mello é professor de matemática do ensino
médio do Colégio Visconde de Porto Seguro
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