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      São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003
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POUCO DE MUITO X MUITO DE POUCO

CONHECER VÁRIAS ÁREAS DENTRO DA PRÓPRIA PROFISSÃO FACILITA O PROCESSO DE ESCOLHA

Para especialistas, graduação deve proporcionar formação ampla a aluno

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
ESPECÍFICO Sônia Cristina Alves Suriani, que trabalhava com recursos humanos antes de ingressar na faculdade e optou por fazer um curso seqüencial em vez de uma graduação


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A escolha da graduação pode ser apenas a primeira decisão que o estudante precisará tomar relativa à sua futura área de trabalho. Depois ou durante o curso, ele terá de escolher um dos campos dentro daquilo que optou inicialmente.
Mesmo que o estudante tenha certeza do que seguir, ele não deve tentar se especializar nos primeiros anos da graduação, época que, segundo orientadores vocacionais e coordenadores de curso, deve ser dedicada a uma formação mais ampla. Isso porque provavelmente será a única oportunidade de ver um pouco de outras áreas, o que facilita uma escolha mais consciente.
"Se a pessoa tenta correr antes de conseguir andar, tropeça. Mesmo que ela tenha certeza do que quer, ela não deve se fixar nisso, e sim ficar aberta para experimentar outras áreas", disse Liomar Quinto de Andrade, psicólogo e professor de orientação vocacional do Instituto Sedes Sapientiae.
É isso o que pretende fazer Bruna Abdo Brohen, 17, que ainda nem entrou na faculdade, mas já pretende seguir a carreira diplomática. Mesmo podendo ter qualquer graduação para tornar-se diplomata, ela optou por direito por considerar o curso "mais amplo". "Caso desista da diplomacia, sei que tenho várias outras opções."
Se a pessoa conhece todas as áreas, é fácil escolher qual não quer, o que pode ser o primeiro passo para optar por uma delas. "Como os estudantes de medicina têm aulas de todas as áreas durante a graduação, eles costumam excluir as que percebem que não levam jeito", disse Reinaldo Ayer de Oliveira, conselheiro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo e professor da Unesp.
Além de facilitar a escolha do estudante, segundo ele, uma formação generalista é importante para permitir que o médico tenha uma visão do doente como um todo. "Há doenças que obrigam uma interface entre especializações. Ao olhar o fundo do olho de um paciente, um oftalmologista pode ver sintomas que podem ser de diabetes. É importante que ele saiba um pouco sobre isso."
Já em direito, caso decida trabalhar na área penal, por exemplo, é perigoso dedicar-se desde o início do curso às matérias relacionadas, desprezando outras.
"Um direcionamento precoce pode comprometer a formação geral e afastar algo que é muito necessário hoje em dia, que é a interdisciplinaridade", disse Ademar Pereira, diretor da Faculdade de Direito do Mackenzie.
Ele exemplifica com alguns casos de trabalho infantil em que um advogado trabalhista tem de lidar também com aspectos de direito penal. "A especialização por área não produz a melhor formação do aluno."
Possibilitar uma formação mais generalista foi o que acabou gerando uma mudança nas diretrizes que regulam os cursos de farmácia do Brasil. Até 2003, geralmente no final do terceiro ano, o estudante tinha de escolher uma das três modalidades existentes: fármaco e medicamentos, alimentos e análises clínicas.
"Para disputar no mercado de trabalho, um generalista não basta. O generalista tem um conhecimento mais amplo, mas, ao mesmo tempo, mais superficial. Ele vai acabar não aprendendo nada de forma aprofundada", disse Thaís Borges César, chefe do departamento de alimentos e nutrição da Unesp de Araraquara, ressaltando que a especialização é feita hoje apenas depois da formação geral.


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