São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008
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DEU NA MÍDIA

A Rodada Doha e a guerra dos subsídios

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Reunidos em Genebra (Suíça), em julho, representantes dos países membros da OMC (Organização Mundial do Comércio) participaram de intensas discussões cujo desafio era concluir a Rodada Doha com a formulação de regras e regulamentações que orientassem o comércio internacional.
No entanto, divergências entre países emergentes do G-20 -grupo dos países que atuam em conjunto na OMC- e as nações desenvolvidas, sob o comando dos EUA e da UE (União Européia), inviabilizaram as negociações. O grande obstáculo foram mais uma vez os subsídios agrícolas.
Prática condenada pela OMC, os subsídios são benefícios oferecidos pelo governo aos agricultores e, em alguns casos, resultam em alta substancial da produção interna a um custo relativamente baixo. Quando os subsídios resultam em aumento da produção, o excedente pode ser exportado a preços bem menores. Os EUA, assim como os países da UE, oferecem subsídios aos seus produtores prejudicando os agricultores dos países pobres, incapazes de competir com os preços subsidiados.
Um exemplo: através dos subsídios oferecidos a seus produtores, os EUA se tornaram os maiores produtores mundiais de algodão. Em Benin e Mali, países pobres africanos, a produção de algodão corresponde a cerca de 50% do PIB. O algodão é praticamente o único produto de exportação destas nações.
No entanto, o mercado internacional, impulsionado pela China, dá preferência ao algodão norte-americano, mais barato. Portanto, eis a lógica perversa: os subsídios nos EUA causam danos à produção agrícola dos países africanos, dificultando a saída desses países de uma situação de extrema pobreza.
Inauguradas em Doha, no Qatar, em 2001, as negociações multilaterais sobre a liberalização do comércio mundial, chamadas de Rodada Doha, estavam previstas para serem concluídas em 2004. No entanto, após sucessivos encontros, o impasse continuava. Desta vez, os negociadores, sob a liderança de Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, estavam otimistas. A atual crise de alimentos no mundo e a disposição do presidente dos EUA, George W. Bush, em superar os obstáculos, em razão da proximidade do fim do seu mandato, levavam a crer que finalmente a rodada seria encerrada, o que não ocorreu.
Antes de preparar uma nova estratégia, é preciso aguardar o resultado das urnas nos EUA, mas sem muito otimismo. Afinal, quando o tema é subsídio, não há muita diferença entre um democrata e um republicano.


ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile

rcandelori@uol.com.br


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