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      São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003
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HISTÓRIA

Getúlio Vargas, o retorno

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 24 de agosto de 1954, pela manhã, o presidente Vargas desferiu um tiro no próprio peito "e deixou a vida para entrar para a história". Com este ato dramático e calculado, pôs fim ao seu segundo governo, desnorteou os inimigos, aprofundou a crise política e praticamente encerrou uma etapa da história do Brasil.
As pressões contra Vargas fizeram-se sentir antes da posse, em 1950. Carlos Lacerda e seu jornal, a "Tribuna da Imprensa", e a União Democrática Nacional alegavam que o eleito não podia assumir a Presidência, pois não havia obtido maioria absoluta, o que não era exigido pela Constituição.
Na gestão de Getúlio Vargas, multiplicaram-se as acusações de que seu governo estava envolvido em atos de corrupção de toda a ordem. A campanha era apoiada pelos principais veículos da imprensa do país. Além da "Tribuna da Imprensa", o jornal "O Globo" e a rádio Globo, de Roberto Marinho, bem como o jornal "O Estado de S. Paulo", da família Mesquita, davam eco às críticas e às acusações.
A criação das estatais Petrobras e Eletrobrás feriu interesses norte-americanos num momento em que os EUA eram considerados pelas elites empresariais nativas o grande aliado na luta contra a ameaça comunista. O aumento de 100% no salário mínimo, decretado no dia 1º de maio de 1954, desencadeou uma onda de protestos. Militares, empresários e a imprensa acusavam o governo de pretender implantar no Brasil uma "república sindical".
A conjuntura política tornou-se imprevisível quando Carlos Lacerda sofreu um atentado (na rua Toneleros), no Rio, que o feriu no pé e matou um oficial da Aeronáutica. O jornalista acusou o Catete, sede do Executivo, de estar envolvido no atentado. A Aeronáutica criou um grupo próprio de investigação, pois não confiava no inquérito oficial, e foi esse grupo que conseguiu localizar os autores do atentado e identificar Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio, como mandante da ação. Concluiu-se que, se uma pessoa tão próxima ao presidente decidiu a ação, era impossível que ele não soubesse -no mínimo, era cúmplice.
A UDN, a imprensa, a Aeronáutica e setores do Exército exigiam o afastamento do presidente. Vargas, ao perceber seu isolamento, tomou a atitude extrema, que, embora tenha alterado a conjuntura, não reverteu a tendência que se insinuava por trás dela. Mas sobre isso trataremos na próxima coluna.


Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. Email: roberson.co@uol.com.br


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