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HISTÓRIA
Getúlio Vargas, o retorno
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 24 de agosto de 1954, pela
manhã, o presidente Vargas
desferiu um tiro no próprio peito
"e deixou a vida para entrar para a
história". Com este ato dramático
e calculado, pôs fim ao seu segundo governo, desnorteou os inimigos, aprofundou a crise política e
praticamente encerrou uma etapa
da história do Brasil.
As pressões contra Vargas fizeram-se sentir antes da posse, em
1950. Carlos Lacerda e seu jornal,
a "Tribuna da Imprensa", e a
União Democrática Nacional alegavam que o eleito não podia assumir a Presidência, pois não havia obtido maioria absoluta, o que
não era exigido pela Constituição.
Na gestão de Getúlio Vargas,
multiplicaram-se as acusações de
que seu governo estava envolvido
em atos de corrupção de toda a
ordem. A campanha era apoiada
pelos principais veículos da imprensa do país. Além da "Tribuna
da Imprensa", o jornal "O Globo"
e a rádio Globo, de Roberto Marinho, bem como o jornal "O Estado de S. Paulo", da família Mesquita, davam eco às críticas e às
acusações.
A criação das estatais Petrobras
e Eletrobrás feriu interesses norte-americanos num momento em
que os EUA eram considerados
pelas elites empresariais nativas o
grande aliado na luta contra a
ameaça comunista. O aumento de
100% no salário mínimo, decretado no dia 1º de maio de 1954, desencadeou uma onda de protestos. Militares, empresários e a imprensa acusavam o governo de
pretender implantar no Brasil
uma "república sindical".
A conjuntura política tornou-se
imprevisível quando Carlos Lacerda sofreu um atentado (na rua
Toneleros), no Rio, que o feriu no
pé e matou um oficial da Aeronáutica. O jornalista acusou o Catete, sede do Executivo, de estar
envolvido no atentado. A Aeronáutica criou um grupo próprio
de investigação, pois não confiava
no inquérito oficial, e foi esse grupo que conseguiu localizar os autores do atentado e identificar
Gregório Fortunato, chefe da
guarda pessoal de Getúlio, como
mandante da ação. Concluiu-se
que, se uma pessoa tão próxima
ao presidente decidiu a ação, era
impossível que ele não soubesse
-no mínimo, era cúmplice.
A UDN, a imprensa, a Aeronáutica e setores do Exército exigiam
o afastamento do presidente. Vargas, ao perceber seu isolamento,
tomou a atitude extrema, que,
embora tenha alterado a conjuntura, não reverteu a tendência que
se insinuava por trás dela. Mas sobre isso trataremos na próxima
coluna.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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