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QUÍMICA
Um veneno que salva vidas
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Você sabia que o azoteto de sódio, um pó branco muito venenoso que foi bastante utilizado no
combate às ervas daninhas, pode
salvar sua vida? Sua toxidez é tão
alta que ele chega a ser mais perigoso que os cianetos. Quando
inalado, o azoteto (ou azida) de
sódio, NaN3, causa forte irritação
nas vias aéreas. Ingerido, eleva a
pressão sangüínea, causa arritmia
cardíaca e convulsões e pode até
matar. Mas, apesar disso, ele pode
salvar sua pele. Vamos ver como.
O segredo está na sua instabilidade molecular. Essa estranha
substância apresenta, além dos
cátions sódio, três átomos de nitrogênio interligados, e não dois,
como seria mais comum, formando, por isso, uma estrutura extremamente instável. Assim, a tendência natural é a de quebra da
molécula, produzindo o superestável e muito pouco reativo gás nitrogênio (N2), o mais abundante
da atmosfera.
Quando essa quebra acontece,
em apenas 25 milésimos de segundo (cinco vezes mais rápido
que um piscar de olhos), pode-se
encher um balão com 70 litros de
gás N2! E qual é a utilidade dessa
reação relâmpago? Salvar sua vida, ou melhor, encher airbags,
aqueles balões que inflam e protegem os passageiros numa batida
de automóvel. Todo carro equipado com airbag carrega alguns
gramas do azoteto de sódio (tente
calcular essa massa; se quiser conferir seus cálculos, mande um e-mail para esta coluna. Para a resolução, considere: volume molar
do N2: 25 L; airbag de 70 L). Em caso de acidente, um sensor que detecta fortes desacelerações "decide" se o airbag será ou não inflado. No início do processo, um impulso elétrico eleva a temperatura
do azoteto para 300C, o que causa sua decomposição: 2 NaN3
2Na + 3 N2. Mas o azoteto não trabalha sozinho. Ele conta com dois
ajudantes: o KNO3 e a sílica.
O sódio formado na decomposição do NaN3 reage com o KNO3
produzindo mais um pouco de N2
(10 Na + 2 KNO3 K2O + 5Na2O +
N2), que ajuda a inflar o balão de
náilon, uma poliamida, protegendo os passageiros de um impacto
mais forte.
Por último, os óxidos formados
(K2O e Na2O) reagem com a sílica
para formar silicato alcalino (vidro), que é um composto estável,
não-inflamável e, portanto, seguro. Mas somente o gás nitrogênio
escapa para os airbags.
Nos airbags, nos automóveis, na
vida... a química está mesmo em
todas!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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