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      São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2003
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FÍSICA

Hollywood e a física: 2

TARSO PAULO RODRIGUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última coluna, mostramos que, por contrariarem vários princípios físicos, muitas situações nos filmes de ficção científica, se não são impossíveis, seriam altamente improváveis.
No filme "Armageddon", por exemplo, o personagem interpretado pelo ator Bruce Willis e um grupo de perfuradores de petróleo deveriam instalar um artefato nuclear para explodir e dividir um asteróide que se encontrava em rota de colisão com a Terra. O asteróide era esférico com um raio de 650 km e uma massa de 1022kg.
Se lembrarmos que o módulo da aceleração da gravidade (g) na superfície de uma esfera homogênea é calculado por: g = G.M/R2, em que G = 6,7x10-11N.m2/kg2 representa a constante da gravitação universal, podemos determinar, aproximadamente, a aceleração da gravidade na superfície do gigantesco asteróide: 1,6 m/s2. Como esse valor é muito menor que a aceleração gravitacional na superfície terrestre (10 m/s2), é fácil concluir que as condições de trabalho na instalação do artefato deveriam ser muito diferentes das mostradas no filme.
Vários filmes de ficção científica se baseiam na teoria da relatividade geral de Einstein para realizarem viagens no tempo. Segundo a teoria, o espaço composto de três dimensões, comprimento, largura e altura, passa a ter uma quarta dimensão, o tempo. Assim como uma bola de ferro muito pesada deforma uma cama elástica quando colocada em seu centro, a presença de matéria, como o Sol, por exemplo, provoca uma deformação nesse universo do espaço-tempo capaz até de curvar a luz. A teoria também prevê que a geometria desse universo quadridimensional possa ser drasticamente retorcida, devido à presença de estrelas extremamente densas que sugam tudo a sua volta, conhecidas como buracos negros.
A possibilidade teórica de viajar no tempo resulta da conexão entre buracos negros, conhecidos como buracos-de-minhoca -verdadeiras "janelas" para viagens temporais.
Filmes como "Contato" e "Jornada nas Estrelas" apresentam soluções inovadoras para realizarem essas viagens, como encurvar o espaço-tempo e conectar dois pontos do Universo, criando um atalho dimensional para suas viagens. Porém a energia necessária para criar essa "dobra" temporal, até hoje, é inatingível!
Como escreveu Stephen Hawking: "A ficção científica sugere idéias que os cientistas incorporam às suas teorias, mas, às vezes, a ciência oferece noções mais estranhas do que qualquer ficção científica".


Tarso Paulo Rodrigues é professor e coordenador de física do Colégio Augusto Laranja


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