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VALE A PENA SABER
HISTÓRIA
As crises e as mudanças nos rumos do capitalismo
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na discussão sobre a crise
que atingiu a economia mundial nos últimos meses tem surgido alguns equívocos. O primeiro e mais evidente é o que
atribui as causas da crise à "ganância dos especuladores". Esse ponto de vista desloca para
segundo plano o aspecto mais
importante, que é o reconhecimento das crises como um
componente intrínseco do sistema capitalista. Não existe capitalismo sem crises. A "ganância dos especuladores" pode
acelerar ou aumentar os efeitos
das crises, mas não é propriamente a sua causa.
As crises têm se manifestado
periodicamente desde as etapas iniciais do capitalismo, na
transição do século 18 para o 19.
Segundo alguns estudiosos, entre 1795 e 1937, houve 17 de duração e intensidades diferentes, a cada oito anos e quatro
meses, em média.
Entre as mais famosas e importantes, destaca-se a crise
que atingiu a Europa em fins da
década de 1840 e cuja onda de
desemprego e pobreza contribuiu para a eclosão das revoluções de 48.
Seus efeitos repercutiram
profundamente na evolução
política do continente. Primeiro, porque o proletariado urbano saiu dessa crise "armado"
com uma ideologia revolucionária, o comunismo, que defendia uma luta aberta dos trabalhadores contra a burguesia, a
tomada do poder e a implantação do socialismo. Segundo,
porque ficou evidente à burguesia a necessidade de uma
ideologia que combatesse a
oposição entre as classes e enfatizasse a coesão social.
Isso ajuda a explicar o apoio
crescente dos "partidos da ordem" às idéias nacionalistas.
Acreditava-se que o fortalecimento dos laços de união entre
os "cidadãos" poderia neutralizar os efeitos desagregadores e
revolucionários do comunismo. O reforço dos laços de nacionalidade e dos interesses
"nacionais" cobrou um preço
que foi o aumento da oposição e
das hostilidades entre as nações. Este fenômeno foi fundamental para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Outra crise que produziu
efeitos marcantes na história
do capitalismo foi a de 1929.
Iniciou-se com o crack da Bolsa
de Nova York e se alastrou rapidamente, quebrando bancos,
indústrias nos EUA e no mundo, gerando novamente desemprego e pobreza em grande
escala. A principal conseqüência da crise de 29 foi uma alteração no rumo do desenvolvimento capitalista. As idéias liberais, que defendiam o livre
mercado e combatiam o intervencionismo, saíram desmoralizadas da crise e iniciou-se um
período no qual o Estado passou a ter papel na regulação,
orientação e planejamento do
desenvolvimento econômico,
que durou até a década de 80.
Nesse aspecto, a crise que
atingiu a economia mundial recentemente guarda semelhança com a de 29, pois ambas encerram um longo período no
qual a fé irrestrita na capacidade do mercado em promover o
desenvolvimento e garantir a
estabilidade saiu abalada, uma
vez que o mercado revelou-se
incapaz de enfrentar solitariamente a crise que criou operando livre de restrições.
ROBERSON DE OLIVEIRA é professor da escola
Móbile é co-autor de "História do Pensamento
Econômico" (Saraiva) e autor de "História do
Brasil, Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (FTD)
roberson.co@uol.com.br
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