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MEDO DE EXATAS
Só 6,9% têm compreensão adequada da matemática
Segundo o Saeb, uma avaliação do MEC, 62,3% estão no estágio crítico
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
O processo de tratar os
números como inimigos vai
tomando forma já nos primeiros anos de escola e assume um
estado agudo no terceiro ano
do ensino médio: de acordo
com o Saeb (Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica), apenas 6,9% dos estudantes do terceiro ano alcançaram
um estágio adequado na aprendizagem relacionada a competências matemáticas.
Daí uma explicação para o
medo das exatas na hora dos
vestibulares. A maior parte dos
formandos -62,3%- ficou na
faixa descrita como "crítica"
pelo Saeb, ou seja, está aquém
do que é exigido para a série.
Nesse estágio, o estudante
sabe lidar com gráficos e entende propriedades de figuras geométricas planas, mas não consegue lidar bem com probabilidade ou números complexos,
por exemplo. Ainda 6,5% ficaram na faixa "muito crítica",
sem conseguir ler gráficos; e
24,3%, no estágio intermediário, quando reconhecem parte
das operações indicadas para a
o terceiro ano.
Os dados são de 2003, quando a pesquisa foi aplicada pelo
Ministério da Educação. Para
se enquadrar no nível considerado adequado, os estudantes
precisam resolver desde questões simples até problemas de
geometria analítica, equações
polinomiais e operações com
números complexos. Tudo o
que é cobrado pelos principais
processos seletivos.
O professor do departamento de matemática aplicada da
Unicamp José Plínio de Oliveira Santos afirma que até mesmo na faculdade os estudantes
chegam com mais dificuldades
do que em outras épocas.
"A sociedade tem preferido
as facilidades, quer produtos
que façam com que se aprenda
em dez horas ou um livro que
ensina física brincando. Os jogos da infância são ferramentas
importantes, mas não adianta
passar a imagem de que tudo
pode ser aprendido sem esforço. É preciso sentar por horas,
se dedicar", afirma.
O problema, segundo o professor Pierluigi Piazzi, do Anglo, está na construção do conhecimento da disciplina. Ele
compara o estudo da matemática a um condomínio vertical e
o de humanas, a um horizontal.
"Se o estudante perde um conteúdo de história, consegue entender os outros. Mas, se perde
um de matemática, vai tendo
toda a compreensão prejudicada", argumenta.
Para ele, as crises com a matéria começam quando um assunto é deixado de lado e não se
consolida. É mais ou menos isso o que relata Lívia Galli Caneiro, 18. Até a sétima série, tudo ia bem. Então teve uma professora que considerou ruim e
os estudos da disciplina desandaram. "Depois daquela professora, não fiz mais nada", diz.
"Sinto que, se eu estudasse
mais, poderia recuperar."
O professor ruim, que não explica aos alunos os motivos para estudar a matemática e não
consegue relacionar a disciplina com o cotidiano, é outro fator de desinteresse pelos números, segundo Edmilson
Motta, coordenador do Etapa.
O resultado de todos esses fatores foi o seguinte: em 2003, o
Brasil conquistou a pior colocação, dentre 41 países, no Pisa,
uma avaliação internacional.
Por isso, para José Luiz Pastore Mello, mestre pela USP e
professor do Colégio Santa
Cruz, o contexto é muito importante. "Na hora do estudo,
vale a pena pedir ajuda ao professor para que ele indique problemas que possam favorecer a
compreensão dos diversos conteúdos da matemática", diz.
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