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      São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003
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CARREIRA/OCEANOGRAFIA

AMOSTRAS E INFORMAÇÕES COLETADAS SÃO MUITAS VEZES ANALISADAS LONGE DO MAR

Laboratório é "habitat" de profissional da área

Toni Pires - 16.mar.2002/Folha Imagem
O navio de apoio oceanográfico Ary Rongel ancorado na enseada Martel, diante da estação de pesquisa brasileira Comandante Ferraz, na Antártida


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sol forte, um par de confortáveis chinelos nos pés, bermuda larga e óculos escuros enquanto caminha por uma praia deserta. Assim é a vida do oceanógrafo -mas apenas quando está de férias.
O trabalho de campo do oceanógrafo, seja em praias ou em navios, é, na maioria dos casos, o que menos ocupa o tempo do profissional. A maior parte do trabalho é feita nos laboratórios, onde as amostras e informações coletadas são analisadas.
"Tenho 24 anos de profissão. Já fiz viagens maravilhosas, mas, se somar o tempo durante o qual fiquei embarcado, não ocupa um ano. O resto fiquei no laboratório. A oceanografia é uns 90% de suor e apenas 10% de aventura", disse Moysés Tessler, presidente da comissão de graduação da USP.
Dependendo da área, pode até acontecer de o oceanógrafo não precisar ter contato físico com o mar. "Se a pessoa resolve trabalhar com a oceanografia física, estudando massas de água, como correntes e marés, ela pode nem chegar perto da água, ficando no computador fazendo análises de informações de satélites", disse Luiz Carlos Krug, coordenador da graduação em oceanologia (outra denominação do curso) da Furg (Fundação Universidade Federal do Rio Grande).

Quatro grandes áreas
A oceanografia física é uma das quatro grandes especializações da carreira. A oceanografia biológica estuda os seres vivos marinhos, a química dá ênfase à composição da água, e a geológica pesquisa os materiais que compõem o fundo do mar.
O que difere a oceanografia de outras áreas relacionadas é que ela se preocupa principalmente com a interação entre os vários elementos que formam o ambiente marinho e os processos envolvidos. Se um biólogo estuda apenas o organismo de um peixe, por exemplo, o oceanógrafo está mais preocupado em entender como a temperatura da água influi nos animais e como esses estão relacionados com o fundo do oceano, que, por sua vez, pode modificar a circulação da água.
"A oceanografia é multidisciplinar. Nós olhamos o todo primeiro, para depois irmos para as partes, diferentemente do que ocorre com outros especialistas que estudam elementos isolados do ambiente marinho", disse Eduardo Marone, diretor do Centro de Estudos do Mar da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
A oceanografia também não se limita a estudar apenas o mar, mas todos os ambientes próximos que são influenciados por ele, como praias, mangues e ecossistemas litorâneos, e sua relação com as atividades humanas. Por isso o curso tem matérias de biológicas, de exatas e de humanas.

Atuação
A principal atividade que atrai os formados na área é a pesquisa, feita principalmente em universidades. Para isso o caminho natural depois da graduação é continuar os estudos, fazendo mestrado e depois doutorado.
Mas quem não quer seguir a carreira acadêmica pode atuar também na área ambiental, fazendo relatórios de impacto e ajudando a cumprir metas de preservação em empresas e órgãos estatais. Nesses últimos, o oceanógrafo pode ajudar também na formulação de políticas públicas e de leis para regular o aproveitamento dos recursos marinhos.
Na exploração de produtos originários do mar, o graduado pode atuar em fazendas de cultivo de mariscos e outros frutos do mar, em indústrias pesqueiras ou então em empresas que extraem petróleo em alto-mar (a maior parte do petróleo brasileiro não está em terra firme).
Além de procurar entender como uma obra pode afetar o ecossistema marinho, o profissional estuda também o impacto contrário, ou seja, qual o impacto do mar sobre a construção. Quando se faz um porto ou uma marina, por exemplo, o oceanógrafo ajuda a saber como as ondas e marés podem atingir a obra.


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