São Paulo, Quinta-feira, 26 de Novembro de 1998
 
 

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ATUALIDADES

Racismo remonta ao período colonial

ELIANE YAMBANIS OBERSTEINER
especial para a Folha

Embora hoje conste da legislação brasileira que a prática de racismo seja crime inafiançável, nos deparamos com ele de maneira mais ou menos explícita em nosso cotidiano. Aliás, quanto mais dissimulado for o preconceito, maior é a dificuldade de reação e defesa contra ele.
Mas quais as origens do racismo no Brasil? O racismo brasileiro remonta ao período colonial, quando o negro é introduzido como mão-de-obra escrava, visando atender aos anseios mercantis da metrópole portuguesa.
A estrutura econômica e social, que inaugura a colonização portuguesa na América, se assenta em princípios sociais e religiosos que buscam justificar, de forma ética e moral, a exploração do negro. Os colonizadores, oriundos de um mundo em que a nobreza estava decadente, vêm para a América imbuídos de um ranço medieval -o ideal de fidalguia.
Ser filho de alguém, possuir uma origem de nascimento, é o que os identifica. A vinda para a América significa restaurar o poder econômico já distante, situação incompatível com o status de que se julgam merecedores.
Assim, é possível compreender o papel parasitário desempenhado pelo branco na estrutura produtiva. Quanto menos fizer, maior seu símbolo de poder, já que outros, seus subordinados, farão por ele. O trabalho no Brasil já nasce desprestigiado, como algo inferior, realizado por alguém idem. Enquanto isso, na casa grande, a elite desempenha a pantomima de como seria viver na corte, com seus hábitos desvinculados da realidade tropical.
A Igreja Católica corrobora com a inserção do negro como escravo, dando o subsídio ético necessário para tranquilizar qualquer eventual crise de consciência da elite, fervorosamente religiosa.
Os negros -na interpretação da Igreja, desprovidos de alma, renegando o Deus católico ao optarem pelo animismo e, portanto, compactuando com o demo- deveriam pagar em vida pela suprema heresia. A escravidão, pois, seria a penitência.
Claro que essas justificativas encobrem os verdadeiros interesses, que são econômicos: são precisos braços que viabilizem a empresa colonial. O negro, tornado escravo, dá lucro de duas maneiras: barateando a produção, já que seu trabalho é compulsório, e transformando-se em mercadoria (o tráfico negreiro é uma das principais formas de acumulação para os países envolvidos nessa atividade).
Mesmo os negros que, durante o escravismo, se convertem à fé católica não são absolvidos da penitência da escravidão, fato que reafirma a questão como econômica. A Abolição da Escravatura, em 1888, não garante ao negro sua plena inserção social como cidadão.
O preconceito contra o negro prioriza a adoção do imigrante como mão-de-obra no início do trabalho assalariado no Brasil. Esse fato, sem dúvida, dificulta aos homens de origem africana um lugar de justa igualdade social e econômica em relação aos demais.


Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história de Colégio Equipe



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