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ATUALIDADES
Racismo remonta ao período colonial
ELIANE YAMBANIS OBERSTEINER
especial para a Folha
Embora hoje conste da legislação brasileira que a prática de racismo seja crime inafiançável,
nos deparamos com ele de maneira mais ou menos explícita
em nosso cotidiano. Aliás, quanto mais dissimulado for o preconceito, maior é a dificuldade
de reação e defesa contra ele.
Mas quais as origens do racismo no Brasil? O racismo brasileiro remonta ao período colonial,
quando o negro é introduzido
como mão-de-obra escrava, visando atender aos anseios mercantis da metrópole portuguesa.
A estrutura econômica e social,
que inaugura a colonização portuguesa na América, se assenta
em princípios sociais e religiosos
que buscam justificar, de forma
ética e moral, a exploração do negro. Os colonizadores, oriundos
de um mundo em que a nobreza
estava decadente, vêm para a
América imbuídos de um ranço
medieval -o ideal de fidalguia.
Ser filho de alguém, possuir
uma origem de nascimento, é o
que os identifica. A vinda para a
América significa restaurar o poder econômico já distante, situação incompatível com o status de
que se julgam merecedores.
Assim, é possível compreender
o papel parasitário desempenhado pelo branco na estrutura produtiva. Quanto menos fizer,
maior seu símbolo de poder, já
que outros, seus subordinados,
farão por ele. O trabalho no Brasil já nasce desprestigiado, como
algo inferior, realizado por alguém idem. Enquanto isso, na
casa grande, a elite desempenha
a pantomima de como seria viver
na corte, com seus hábitos desvinculados da realidade tropical.
A Igreja Católica corrobora
com a inserção do negro como
escravo, dando o subsídio ético
necessário para tranquilizar
qualquer eventual crise de consciência da elite, fervorosamente
religiosa.
Os negros -na interpretação
da Igreja, desprovidos de alma,
renegando o Deus católico ao optarem pelo animismo e, portanto, compactuando com o demo- deveriam pagar em vida
pela suprema heresia. A escravidão, pois, seria a penitência.
Claro que essas justificativas
encobrem os verdadeiros interesses, que são econômicos: são
precisos braços que viabilizem a
empresa colonial. O negro, tornado escravo, dá lucro de duas
maneiras: barateando a produção, já que seu trabalho é compulsório, e transformando-se em
mercadoria (o tráfico negreiro é
uma das principais formas de
acumulação para os países envolvidos nessa atividade).
Mesmo os negros que, durante
o escravismo, se convertem à fé
católica não são absolvidos da
penitência da escravidão, fato
que reafirma a questão como
econômica. A Abolição da Escravatura, em 1888, não garante ao
negro sua plena inserção social
como cidadão.
O preconceito contra o negro
prioriza a adoção do imigrante
como mão-de-obra no início do
trabalho assalariado no Brasil.
Esse fato, sem dúvida, dificulta
aos homens de origem africana
um lugar de justa igualdade social e econômica em relação aos
demais.
Eliane Yambanis Obersteiner é professora
de história de Colégio Equipe
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