São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002
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PORTUGUÊS

Romantismo marca mudança de mentalidade

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Engana-se quem pensa que todo poeta que fala de amor é romântico. Esse é o tema da poesia lírica de todos os tempos. Camões, que não era romântico, mas clássico, foi um dos que melhor cantaram o amor. Difícil será encontrar um poeta que nunca tenha tocado nesse tema. O que muda de época para época é o modo de abordá-lo. Existe uma espécie de repertório estético que os autores manipulam e que varia de acordo com o contexto histórico-cultural.
Mas não se pode negar que o amor seja um dos principais temas dos românticos em particular e que teve nessa época talvez a sua expressão máxima. Estética centrada no sujeito, no mundo do indivíduo, o romantismo proporcionou à manifestação dos sentimentos um lugar especial na poesia. Assumindo uma atitude criadora mais livre, o poeta abandona certas formas fixas (como o soneto, por exemplo) em favor do poema sem corte fixo, aquele "que termina onde cessa a inspiração", como bem diz o crítico e ensaísta Alfredo Bosi. As populares redondilhas competem com o decassílabo. Diferentemente do padrão clássico, o padrão romântico subordina a forma ao conteúdo.
O uso da mitologia grega como referência enfraquece-se sensivelmente. A própria epopéia sai de cena e dá espaço para o surgimento do romance, o gênero narrativo em prosa que veio expressar os conflitos da sociedade burguesa.
A natureza, a mais alta expressão da criação divina, reflete os estados de alma dos poetas e, assim, ganha vida, em contraste com sua expressão no arcadismo, quando era meramente decorativa.
Idealizada, a figura feminina chega à identificação com a pureza santificada. As mulheres são virgens, castas, alvas, etéreas. O amor é o melhor dos sentimentos -é a verdade em nome da qual se pode morrer. Werther, personagem de "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774), de Goethe, anteciparia o modelo do amor romântico -é o jovem que morre ante a impossibilidade da realização amorosa.
Mas esse mal de amor que acomete os apaixonados e ganha tanta solenidade era visto na Antiguidade como doença ou simples motivo de galhofa. Enquanto os clássicos valorizavam a razão, os românticos faziam prevalecer a emoção. No mundo aristocrático, valia a contenção das emoções; no mundo burguês, o seu derramamento. O romantismo surgiu com a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia. A produção literária do período marca uma mudança de mentalidade.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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