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PORTUGUÊS
Romantismo marca mudança de mentalidade
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Engana-se quem pensa que todo poeta que fala de amor é romântico. Esse é o tema da poesia lírica de todos os tempos. Camões, que não era romântico,
mas clássico, foi um dos que melhor cantaram o amor. Difícil será
encontrar um poeta que nunca tenha tocado nesse tema. O que
muda de época para época é o
modo de abordá-lo. Existe uma
espécie de repertório estético que
os autores manipulam e que varia
de acordo com o contexto histórico-cultural.
Mas não se pode negar que o
amor seja um dos principais temas dos românticos em particular e que teve nessa época talvez a
sua expressão máxima. Estética
centrada no sujeito, no mundo do
indivíduo, o romantismo proporcionou à manifestação dos sentimentos um lugar especial na poesia. Assumindo uma atitude criadora mais livre, o poeta abandona
certas formas fixas (como o soneto, por exemplo) em favor do poema sem corte fixo, aquele "que
termina onde cessa a inspiração",
como bem diz o crítico e ensaísta
Alfredo Bosi. As populares redondilhas competem com o decassílabo. Diferentemente do padrão
clássico, o padrão romântico subordina a forma ao conteúdo.
O uso da mitologia grega como
referência enfraquece-se sensivelmente. A própria epopéia sai de
cena e dá espaço para o surgimento do romance, o gênero narrativo
em prosa que veio expressar os
conflitos da sociedade burguesa.
A natureza, a mais alta expressão da criação divina, reflete os estados de alma dos poetas e, assim,
ganha vida, em contraste com sua
expressão no arcadismo, quando
era meramente decorativa.
Idealizada, a figura feminina
chega à identificação com a pureza santificada. As mulheres são
virgens, castas, alvas, etéreas. O
amor é o melhor dos sentimentos
-é a verdade em nome da qual se
pode morrer. Werther, personagem de "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774), de Goethe,
anteciparia o modelo do amor romântico -é o jovem que morre
ante a impossibilidade da realização amorosa.
Mas esse mal de amor que acomete os apaixonados e ganha tanta solenidade era visto na Antiguidade como doença ou simples
motivo de galhofa. Enquanto os
clássicos valorizavam a razão, os
românticos faziam prevalecer a
emoção. No mundo aristocrático,
valia a contenção das emoções; no
mundo burguês, o seu derramamento. O romantismo surgiu
com a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia. A produção
literária do período marca uma
mudança de mentalidade.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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