São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010
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ATUALIDADES

ROBERTO CANDELORI rcandelori@uol.com.br

EUA deixam o Iraque sem solução


Nos anos de presença dos EUA, Saddam foi preso, julgado, condenado e enforcado


CONFORME HAVIA PROMETIDO durante a campanha à Presidência, Barack Obama deu início ao processo de retirada dos soldados norte-americanos do Iraque. Foram sete anos de ocupação (2003-2010), mais de 90 mil iraquianos mortos, 1,7 milhão de refugiados e, entre os aliados, 5.000 mortos.
Nos anos de presença dos EUA, à revelia das Nações Unidas, Saddam Hussein foi preso (2003), julgado, condenado e enforcado (2006).
As forças de ocupação, empenhadas -dizia Bush- em construir uma democracia estável, nomearam um conselho de governo provisório, aprovaram nova Constituição (out.2005) e fizeram a primeira eleição livre (dez.2005) -boicotada pelos árabes sunitas- na era pós-Saddam.
O novo Iraque parlamentarista, que partilhou o poder entre o representante curdo, presidente Jalal Talabani, e o líder xiita, Nuri al-Maliki, não conta com o aval político dos árabes sunitas -corrente ligada ao ex-ditador Saddam Hussein. Por isso, o quebra-cabeças do poder político iraquiano continua complicado.
De um lado estão os curdos, concentrados no norte, fronteira com a Turquia. A região, chamada Curdistão, é rica em petróleo e abriga 15% da população do Iraque.
Segundo o novo cenário, além da Presidência, os curdos ganharão mais autonomia na federação iraquiana. Fato que preocupa o país vizinho, pois lá vivem mais de 12 milhões de curdos, e um Curdistão forte e independente representa uma ameaça à hegemonia turca na região.
Os árabes xiitas, por sua vez, foram beneficiados pela ocupação dos EUA, conseguindo o comando político do país. Como sabemos, os xiitas foram vítimas históricas das atrocidades cometidas por Saddam e sentem-se vingados com a morte do ditador.
Com a retirada dos EUA, querem vencer suas divisões internas e comandar um governo de unidade nacional. Quanto aos árabes sunitas, cerca de 20% da população, continuam resistindo a esse arranjo político, pós-EUA, que divide o poder entre curdos e árabes xiitas.
Considerados a elite intelectual, militar e administrativa no período Hussein (1979-2003), exigem parte da receita do petróleo, mais poder político e recusam a interferência do Irã nos assuntos internos do país. Sabem que as províncias do sul, de maioria xiita, poderiam aproveitar a oportunidade para investir no fortalecimento do eixo Teerã (Irã)-Bagdá (Iraque), o que desestabilizaria todo o Oriente Médio e representaria um desastre para o futuro político de Barack Obama.


ROBERTO CANDELORI é formado em filosofia pela USP e professor do ensino médio do colégio Móbile.


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