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BIOLOGIA
A história do mal de Chagas
FABIO GIORDANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um jovem que, no início
do século 20, resolveu estudar
medicina. Aluno aplicado da faculdade, iniciou suas pesquisas
estudando a malária. Apresentado a Oswaldo Cruz, o maior especialista em malária e em febre
amarela da época, deu início a
uma carreira dedicada à medicina
sanitarista preventiva.
Mas o seu foco, originalmente
voltado aos mosquitos, mudou
para um outro inseto, que, também hematófago, despertou nele
a indagação sobre a possibilidade
de transmissão de algum tipo de
protozoário. Inicialmente trabalhando com primatas e posteriormente com tatus, Chagas desvendou o ciclo de vida desse parasita,
que, hoje, sabidamente, infesta
milhões de brasileiros. Devido à
migração de áreas endêmicas, estima-se, por exemplo, em 300 mil
habitantes o número de pessoas
com o mal de Chagas apenas na
cidade de São Paulo.
A doença da enervação do coração ou do intestino, decorrente da
sua destruição, provocada pelo
protozoário parasita, o Trypanossoma cruzi, é muito grave e pode
levar à incapacidade e à morte. O
parasita hospeda-se em "besouros", conhecidos popularmente
como "barbeiros". Esses insetos
habitam frestas de casas de taipa
não rebocadas e não caiadas. À
noite, os insetos hematófagos são
atraídos pelo calor dos corpos das
pessoas e os picam para sugar
sangue. Defecam simultaneamente e, nas fezes, está o parasita,
que pode penetrar pelo orifício da
picada, em particular quando a
pessoa coça o local.
A exemplo do que ocorre com
outros parasitas, o Trypanossoma
é hoje um dos focos do projeto genoma. A identificação de seus genes iniciou-se no Brasil em 1994 e
constitui-se numa grande esperança de cura para pessoas que
transportam o parasita, que pode
matar cerca de 750 mil adultos
por ano no país.
Fabio Giordano é bacharel em biologia,
doutor em ecologia pela USP e professor-pesquisador da Unisanta
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