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      São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003
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BIOLOGIA

A história do mal de Chagas

FABIO GIORDANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um jovem que, no início do século 20, resolveu estudar medicina. Aluno aplicado da faculdade, iniciou suas pesquisas estudando a malária. Apresentado a Oswaldo Cruz, o maior especialista em malária e em febre amarela da época, deu início a uma carreira dedicada à medicina sanitarista preventiva.
Mas o seu foco, originalmente voltado aos mosquitos, mudou para um outro inseto, que, também hematófago, despertou nele a indagação sobre a possibilidade de transmissão de algum tipo de protozoário. Inicialmente trabalhando com primatas e posteriormente com tatus, Chagas desvendou o ciclo de vida desse parasita, que, hoje, sabidamente, infesta milhões de brasileiros. Devido à migração de áreas endêmicas, estima-se, por exemplo, em 300 mil habitantes o número de pessoas com o mal de Chagas apenas na cidade de São Paulo.
A doença da enervação do coração ou do intestino, decorrente da sua destruição, provocada pelo protozoário parasita, o Trypanossoma cruzi, é muito grave e pode levar à incapacidade e à morte. O parasita hospeda-se em "besouros", conhecidos popularmente como "barbeiros". Esses insetos habitam frestas de casas de taipa não rebocadas e não caiadas. À noite, os insetos hematófagos são atraídos pelo calor dos corpos das pessoas e os picam para sugar sangue. Defecam simultaneamente e, nas fezes, está o parasita, que pode penetrar pelo orifício da picada, em particular quando a pessoa coça o local.
A exemplo do que ocorre com outros parasitas, o Trypanossoma é hoje um dos focos do projeto genoma. A identificação de seus genes iniciou-se no Brasil em 1994 e constitui-se numa grande esperança de cura para pessoas que transportam o parasita, que pode matar cerca de 750 mil adultos por ano no país.


Fabio Giordano é bacharel em biologia, doutor em ecologia pela USP e professor-pesquisador da Unisanta

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