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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
A mídia e os erros de matemática
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Entre as várias razões que poderiam justificar o estudo da matemática na escola, uma das mais importantes é a relação entre o
conhecimento matemático e os
direitos do consumidor. Vejamos
exemplos nos quais a matemática
elementar ajudaria o cidadão a filtrar informações apresentadas na
mídia sem a devida consistência.
Recentemente, um telejornal
realizou uma pesquisa em diversos bairros de São Paulo para saber a aceitação popular dos administradores regionais. Na pesquisa, uma amostra da população era
convidada a dar nota de zero a dez
para o administrador. A gafe numérica da matéria vem à tona
quando o jornalista anuncia os resultados para um administrador
regional: "O senhor obteve nota 5
na avaliação popular, o que quer
dizer que 50% dos eleitores aprovam sua administração".
Para ilustrar o engano cometido
na informação, imagine uma situação simplificada em que votam apenas três eleitores e suas
notas para o administrador são
iguais a 7, 6 e 2. Neste caso, a média do administrador é 5, mas ele
obteve mais de 50% dos eleitores
atribuindo nota acima da média
ao seu trabalho. Por outro lado, se
as notas dos três eleitores fossem
9, 4 e 2 , a nota média também seria igual a 5, mas agora teríamos
apenas cerca de 33% de notas acima da média. Se nessa pesquisa o
engano talvez não tenha implicado maiores conseqüências, convido o leitor a investigar o caso do
rótulo de um conhecido refrigerante light líder do mercado.
Na embalagem de dois litros
desse refrigerante, existe uma informação contraditória que, a
princípio, sugere propaganda enganosa. Logo abaixo da indicação
de volume do refrigerante, o fabricante informa que dois litros
do produto têm 9 kcal. Ocorre
que, no mesmo rótulo, uma tabela de valores nutricionais referentes a 200 ml do refrigerante indica
a presença de 0 kcal nesse volume
de refrigerante. Fazendo os cálculos com proporção simples, se temos 9 kcal em 2.000 ml do refrigerante, deveríamos ter 0,9 kcal em
200 ml do mesmo produto, e não
0 kcal, como anunciado na tabela.
Como nenhum dos números da
tabela apresenta casa decimal depois da vírgula, talvez a empresa
justifique a informação como decorrência de uma aproximação de
valores, o que ainda assim constitui argumento pouco razoável
uma vez que o número inteiro
mais próximo de 0,9 é 1, e não zero. Talvez fosse o caso de perguntarmos ao fabricante se um consumidor com dieta severa de calorias estaria ou não ingerindo 0 kcal após tomar cinco ou dez copos de 200 ml desse refrigerante.
José Luiz Pastore Mello é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
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