São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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VALE A PENA SABRE

HISTÓRIA

SP, Minas e a governabilidade


Desentendimentos entre lideranças políticas de SP e Minas não são novidade na história do Brasil

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recentemente, o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, renunciou à condição de pretendente a candidato do PSDB na eleição presidencial em 2010. A situação criou embaraços para o governador de São Paulo, José Serra, que conta com o apoio de lideranças importantes do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A desistência de Aécio, associada à predileção da cúpula do PSDB pela candidatura de Serra, poderá criar ressentimentos no eleitorado mineiro e muitas dificuldades para o candidato paulista no segundo maior colégio eleitoral do país nas eleições de 2010.
Desentendimentos entre lideranças políticas de São Paulo e Minas Gerais, identificadas com as ideias do livre mercado, às vésperas de uma eleição presidencial num cenário pós-crise econômica de dimensões globais, não constituem propriamente uma novidade na história do Brasil.
À parte evidentes diferenças, alguns elementos semelhantes a esses podem ser identificados na conjuntura política e econômica que antecedeu as eleições de 1930 e o fim da República Velha, com a denominada Revolução de 1930.
Naquela ocasião, o presidente da República, o paulista Wa- shington Luís, já vinha sinalizando que preferia ser sucedido por outro candidato paulista, Júlio Prestes.
O problema é que, segundo o espírito da famosa política "café com leite", deveria haver um rodízio entre São Paulo e Minas na condução dos destinos do país, e, naquela ocasião, era a vez de um candidato mineiro representar os dois Estados no exercício da Presidência.
A convicção de Washington Luís na necessidade de manter um paulista à frente do governo foi reforçada pelos efeitos da crise de 1929, que atingiu a economia cafeeira paulista de forma devastadora.
Tratava-se de assegurar o controle do Executivo federal e garantir que o Estado recorresse a todos os seus meios para atenuar os efeitos da crise sobre a cafeicultura.
Nada mais indicado para essa tarefa que um representante da oligarquia cafeeira. Essa opção significava quebrar o pacto com a oligarquia mineira, que havia sido responsável por grande parte da "governabilidade" durante praticamente toda a República Velha.
Naquela época, o poder econômico paulista, a capacidade de articulação com as lideranças políticas regionais dos demais Estados e o controle que esses chefes políticos, os coronéis, exerciam sobre o eleitorado através dos mecanismos do curral eleitoral foram fundamentais para a eleição de Júlio Prestes.
Entretanto, ele não chegou a tomar posse, pois um golpe de Estado, liderado por Getúlio Vargas, encerrou um longo período de supremacia das oligarquias de São Paulo e Minas sobre o Executivo federal e substituiu as orientações econômicas de caráter liberal pelas intervencionistas, iniciando um período de gradativas transformações que conduziram à modernização do Estado e à industrialização do país.


ROBERSON DE OLIVEIRA é professor do colégio Móbile, coautor de "História do Pensamento Econômico" (Saraiva) e autor de "História do Brasil, Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (FTD).

roberson.co@uol.com.br


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