O romance "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, leitura obrigatória para quem vai fazer a prova da Fuvest, recebe uma versão para teatro.
Como é uma adaptação do romance, a montagem reserva-se o direito de não ser totalmente fiel à obra. Mas não deixa de ser uma pena que os diálogos tão originais criados pela autora tenham sido pouco aproveitados em favor de outros, que, embora compatíveis com o perfil das personagens, não têm a rubrica da escritora.
O espetáculo funciona como uma espécie de paráfrase -mantém o espírito do original, inverte a ordem de algumas passagens, inclui episódios, desmonta e remonta o texto de Clarice Lispector.
Embora a atriz que representa a alagoana Macabéa tenha uma boa atuação, o elenco como um todo parece despreparado para encenar um texto dramático -tanto que cede à comédia fácil (introduzindo quadros com os estereótipos das evangélicas e das prostitutas, criados à revelia do texto original) para auferir a cumplicidade da platéia juvenil. Resultado: é Macabéa quem fica deslocada da cena, que deveria ser sua o tempo todo.
Já a adaptação feita para cinema, de Suzana Amaral, ganha de longe em sensibilidade. O filme homônimo, disponível em vídeo, preserva a delicadeza bruta da nordestina em sua espontaneidade não lapidada pela sociedade -e algum riso que provoca vem antes da graça perturbadora da personagem que de artifícios criados com esse fim.
(THAÍS NICOLETI DE CAMARGO)