São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2005

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MEMÓRIA

Museu Nacional do Afeganistão, em Cabul, promove sua primeira exposição em 13 anos com estátuas restauradas

Remendada, a arte afegã está de volta

CARLOTTA GALL
DO "NEW YORK TIMES"

O recém-reformado Museu Nacional do Afeganistão abriu sua primeira exposição em 13 anos no mês passado, exibindo ídolos pré-islâmicos em tamanho humano que haviam sido destruídos pelo Taleban quatro anos atrás e foram restaurados pelo museu e por especialistas internacionais.
As estátuas de madeira do Nuristão, uma das províncias montanhosas no nordeste do Afeganistão, são assunto adequado para a reabertura. A equipe do museu trabalhou com afinco para esconder a coleção dos saqueadores determinados a destruir todos os ídolos e representações artísticas da forma humana.
As figuras, vindas da região no passado conhecida como Kafiristão, ou Terra dos Pagãos, são efígies de ancestrais e deuses animistas representando crenças e tradições que continuavam a ser celebradas na região há apenas cem anos. As estátuas, bem como portas entalhadas, pilares e mobília, datam dos séculos 18 e 19 e foram levadas a Cabul pelo Exército do emir Abdur Rahman, soberano do Afeganistão que converteu o Kafiristão ao islamismo pela força, em 1896, e rebatizou a província como Nuristão -que significa Terra da Luz.
As 14 estátuas que restam são como sentinelas gigantescas, com rostos lisos, primitivos, grandes turbantes e enfeites de cabeça, semelhantes às roupas que continuam a ser usadas no Nuristão.
As estátuas foram encaixotadas no começo dos anos 90, quando a guerra civil ameaçava dissolver o país, depois da retirada do Exército soviético de ocupação. Algumas foram armazenadas no Ministério da Cultura, no Kabul Hotel e no museu mesmo, na região oeste de Cabul, que sofreu pesado ataque de foguetes em 1993.
Algumas das peças saqueadas continuam desaparecidas, disse o professor Max Klimburg, diretor da Sociedade Austro-Afegã, que doou diversas de suas descobertas no Kafiristão, durante os anos 70, ao museu.
Em abril de 2001, quando os extremistas conquistaram o controle no governo do Taleban e explodiram as gigantescas estátuas de Buda em Bamiyan, homens armados apreenderam a coleção do museu. A equipe conseguiu esconder as peças mais valiosas em caixotes velhos, mas as maiores foram esmagadas. As figuras de madeira foram cortadas a machado em até 20 pedaços. Demorou mais de um mês para que uma equipe local e um restaurador de madeira pago pelo governo da Áustria reconstruíssem as figuras.


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