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O nome dele é Bruno
Distribuidor de "Meu Nome Não É Johnny", que estréia hoje, Bruno Wainer se livrou da "lama" das drogas antes de investir no cinema
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Um garoto da zona sul carioca que mergulha no consumo
desenfreado de drogas.
Até esse ponto, coincidem as
biografias de João Estrella, 46,
narrada em "Meu Nome Não É
Johnny", e de Bruno Wainer,
47, distribuidor que cuida do
lançamento do filme nas salas
brasileiras, a partir de hoje.
A diferença entre os dois é
que, na trajetória de Wainer, o
cinema chegou antes e o tirou
"dessa lama", como ele diz.
Estrella envolveu-se com o
tráfico, foi preso, cumpriu pena
em hospital psiquiátrico, virou
personagem de livro (de Guilherme Fiuza) e agora chega às
telas, na pele de Selton Mello.
Afeganistão
Wainer estava com 19 anos e
vivia sozinho na Europa, quando comprou uma passagem para o Afeganistão, disposto a
percorrer o seu "caminho das
Índias", em que substâncias
sintéticas tomariam o lugar das
especiarias de outros tempos.
Antes que ele embarcasse,
porém, a União Soviética invadiu o Afeganistão. Wainer mudou de rumo. Voltou ao Brasil.
Aqui, ele entrou em outra
viagem -literal- pelo Nordeste brasileiro, a bordo da caravana que filmava "Bye, Bye, Brasil". O posto de assistente de direção de Cacá Diegues fora
conseguido com um empurrão
(aos olhos de Wainer, invisível)
de sua mãe, Danuza Leão.
A experiência de fazer um filme -"E que filme!", comenta-
foi como um barato afim e
abriu uma porta dupla: para a
entrada na vida profissional e a
saída da dependência química.
Depois da estréia com Diegues, Wainer fez assistência de
direção "em mais uns dez filmes". Trabalhou com diretores
do calibre de Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Arnaldo Jabor. E
comprovou a intuição de que
dirigir não era o seu negócio.
"Para ser cineasta, é preciso
ser vocacionado para a relação
com essa categoria muito especial de ser humano que são os
atores. Eu não sou", afirma.
Wainer decidiu então se
manter longe dos sets, mas perto dos filmes. Passou a comprá-los fora do Brasil e lançá-los
aqui. Tornou-se, enfim, um distribuidor.
O título francês "Delicatessen", de Jean-Pierre Jeunet e
Marc Carro, pequena sensação
no circuito dos filmes de arte
-teve 100 mil espectadores,
com quatro cópias em cartaz-,
foi o primeiro que Wainer adquiriu, no Mercado do Filme do
Festival de Cannes, em 1991.
Dez anos mais tarde, a crise
com a profissão o acertou em
cheio. Nessa época, Wainer comandava o selo Lumière, que,
por um acordo com os irmãos
norte-americanos Bob e Harvey Weinstein, possuía exclusividade na opção de compra para o Brasil dos filmes distribuídos pela Miramax lá fora.
O título da vez era "Todo
Mundo em Pânico 2" e do seu
resultado nas bilheterias dependia o equilíbrio das contas
na Lumière naquele período.
Quando se viu, numa sexta-feira à noite, torcendo para as
salas lotarem de espectadores
"para aquele blefe, aquela porcaria, aquele lixo de filme",
Wainer percebeu que havia se
distanciado da rotina profissional com que sonhara e mudou
de rumo outra vez. Novamente,
voltou-se para o Brasil.
A Downtown Filmes, sua
atual distribuidora, está orientada para lançar exclusivamente títulos nacionais.
"Olga"
A Lumière já não existe mais
sob o comando de Wainer, embora não tenha dado a ele apenas decepções. Com ela, ele
acredita ter feito o seu melhor
trabalho como distribuidor até
hoje, o lançamento de "Olga",
de Jayme Monjardim.
Remando na contracorrente
da crítica, que foi quase unânime em deplorar o longa, "Olga"
tornou-se o segundo título brasileiro mais visto em 2004.
Com 3,076 milhões de espectadores, perdeu por pouco para
o campeão daquele ano, "Cazuza - O Tempo Não Pára" (3,082
milhões). "Nunca deixei de
acreditar no potencial do filme", afirma Wainer.
Mas o excesso de confiança
pode também ser uma armadilha, como ele comprovou em
2007, com "Antonia", um fiasco no portfólio da Downtown.
Projetado para superar 1 milhão de espectadores, "Antonia" ficou abaixo dos 100 mil.
"Foi um erro e um aprendizado", diz ele, sobre o episódio.
O equívoco, frisa Wainer, não
é do público. "Quando o filme
não dá certo, sei que o erro foi
meu." Por outro lado, um acerto não é necessariamente contar espectadores aos milhões.
"Cada filme tem sua lógica econômica. O ideal é conseguir que
ele seja visto por todos que se
interessem por aquele perfil."
Se poucos forem ver "Meu
Nome Não É Johnny", que a
Downtown co-distribui com a
Sony em cerca de cem salas,
Wainer não negará a decepção.
"Ficaria triste por mim e pelo
filme, que tem a ver com o Brasil e com a minha geração", diz.
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