São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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O nome dele é Bruno

Distribuidor de "Meu Nome Não É Johnny", que estréia hoje, Bruno Wainer se livrou da "lama" das drogas antes de investir no cinema

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Um garoto da zona sul carioca que mergulha no consumo desenfreado de drogas.
Até esse ponto, coincidem as biografias de João Estrella, 46, narrada em "Meu Nome Não É Johnny", e de Bruno Wainer, 47, distribuidor que cuida do lançamento do filme nas salas brasileiras, a partir de hoje.
A diferença entre os dois é que, na trajetória de Wainer, o cinema chegou antes e o tirou "dessa lama", como ele diz.
Estrella envolveu-se com o tráfico, foi preso, cumpriu pena em hospital psiquiátrico, virou personagem de livro (de Guilherme Fiuza) e agora chega às telas, na pele de Selton Mello.

Afeganistão
Wainer estava com 19 anos e vivia sozinho na Europa, quando comprou uma passagem para o Afeganistão, disposto a percorrer o seu "caminho das Índias", em que substâncias sintéticas tomariam o lugar das especiarias de outros tempos.
Antes que ele embarcasse, porém, a União Soviética invadiu o Afeganistão. Wainer mudou de rumo. Voltou ao Brasil.
Aqui, ele entrou em outra viagem -literal- pelo Nordeste brasileiro, a bordo da caravana que filmava "Bye, Bye, Brasil". O posto de assistente de direção de Cacá Diegues fora conseguido com um empurrão (aos olhos de Wainer, invisível) de sua mãe, Danuza Leão.
A experiência de fazer um filme -"E que filme!", comenta- foi como um barato afim e abriu uma porta dupla: para a entrada na vida profissional e a saída da dependência química.
Depois da estréia com Diegues, Wainer fez assistência de direção "em mais uns dez filmes". Trabalhou com diretores do calibre de Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Arnaldo Jabor. E comprovou a intuição de que dirigir não era o seu negócio.
"Para ser cineasta, é preciso ser vocacionado para a relação com essa categoria muito especial de ser humano que são os atores. Eu não sou", afirma.
Wainer decidiu então se manter longe dos sets, mas perto dos filmes. Passou a comprá-los fora do Brasil e lançá-los aqui. Tornou-se, enfim, um distribuidor.
O título francês "Delicatessen", de Jean-Pierre Jeunet e Marc Carro, pequena sensação no circuito dos filmes de arte -teve 100 mil espectadores, com quatro cópias em cartaz-, foi o primeiro que Wainer adquiriu, no Mercado do Filme do Festival de Cannes, em 1991.
Dez anos mais tarde, a crise com a profissão o acertou em cheio. Nessa época, Wainer comandava o selo Lumière, que, por um acordo com os irmãos norte-americanos Bob e Harvey Weinstein, possuía exclusividade na opção de compra para o Brasil dos filmes distribuídos pela Miramax lá fora.
O título da vez era "Todo Mundo em Pânico 2" e do seu resultado nas bilheterias dependia o equilíbrio das contas na Lumière naquele período.
Quando se viu, numa sexta-feira à noite, torcendo para as salas lotarem de espectadores "para aquele blefe, aquela porcaria, aquele lixo de filme", Wainer percebeu que havia se distanciado da rotina profissional com que sonhara e mudou de rumo outra vez. Novamente, voltou-se para o Brasil.
A Downtown Filmes, sua atual distribuidora, está orientada para lançar exclusivamente títulos nacionais.

"Olga"
A Lumière já não existe mais sob o comando de Wainer, embora não tenha dado a ele apenas decepções. Com ela, ele acredita ter feito o seu melhor trabalho como distribuidor até hoje, o lançamento de "Olga", de Jayme Monjardim.
Remando na contracorrente da crítica, que foi quase unânime em deplorar o longa, "Olga" tornou-se o segundo título brasileiro mais visto em 2004.
Com 3,076 milhões de espectadores, perdeu por pouco para o campeão daquele ano, "Cazuza - O Tempo Não Pára" (3,082 milhões). "Nunca deixei de acreditar no potencial do filme", afirma Wainer.
Mas o excesso de confiança pode também ser uma armadilha, como ele comprovou em 2007, com "Antonia", um fiasco no portfólio da Downtown. Projetado para superar 1 milhão de espectadores, "Antonia" ficou abaixo dos 100 mil. "Foi um erro e um aprendizado", diz ele, sobre o episódio.
O equívoco, frisa Wainer, não é do público. "Quando o filme não dá certo, sei que o erro foi meu." Por outro lado, um acerto não é necessariamente contar espectadores aos milhões. "Cada filme tem sua lógica econômica. O ideal é conseguir que ele seja visto por todos que se interessem por aquele perfil."
Se poucos forem ver "Meu Nome Não É Johnny", que a Downtown co-distribui com a Sony em cerca de cem salas, Wainer não negará a decepção. "Ficaria triste por mim e pelo filme, que tem a ver com o Brasil e com a minha geração", diz.


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