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O sucesso encolheu
Se, nos anos 1990, vender 1 milhão de cópias de um disco era algo comum, hoje se comemora a chegada às 100 mil unidades
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O disco mais vendido no Brasil em 1993 foi o álbum homônimo de Zezé di Camargo & Luciano lançado naquele ano. O
disco mais vendido do Brasil
em 2009 (até outubro) é o álbum homônimo de Zezé di Camargo & Luciano lançado em
2008. Os sertanejos (e os religiosos) ainda dominam o ranking, mas com uma diferença: o
mercado da música encolheu. E
muito.
Em 1993, Zezé di Camargo &
Luciano venderam 950 mil cópias de seu disco. Entre janeiro
e outubro de 2009, o álbum da
dupla foi comprado por 218 mil.
Se, nos anos 1990, a década
de ouro da indústria fonográfica, era comum para vários artistas lançarem discos que ultrapassavam o 1 milhão de cópias vendidas, hoje se um álbum bater nos 100 mil os executivos de gravadoras dão piruetas segurando taça de
champanhe.
Até outubro de 2009, depois
de "Zezé di Camargo & Luciano", os mais vendidos no país
foram "Eu e o Tempo", do padre Fábio de Melo (189 mil), "I
Am... Sasha Fierce", Beyoncé
(182 mil), "Borboletas", Victor
& Leo (172 mil), e a coletânea
"Promessas" (164 mil).
"Em 1997, antes da "grande
crise", tínhamos várias vendas
de 1 milhão ou mais. Artistas
como padre Marcelo Rossi e o
Só pra Contrariar chegavam
aos 3 milhões de discos vendidos", relembra Alexandre
Schiavo, presidente da Sony.
A "grande crise" da indústria
da música começou em 1998,
com o crescimento da pirataria
de CDs, e foi (ainda está sendo)
inflada pela pirataria digital.
O grande ano fonográfico no
Brasil foi 1997. O mercado movimentou US$ 1,2 bilhão, a partir de vendas de 104 milhões de
unidades (de CD, cassete e LP).
Em 2008, segundo dados da
Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), esse
mercado ficou em US$ 205 milhões (incluindo CD, DVD e arquivos digitais). Em 11 anos, um
encolhimento de US$ 1 bi.
Assim, fica a pergunta: o que
significa "vender muito" hoje?
Como traduzir "fazer sucesso"?
"Depende bastante do artista", afirma Leonardo Ganem,
presidente da gravadora Som
Livre. "Para um artista consagrado, acima de 50 mil cópias.
Para um artista novo, a expectativa é menor, 10 mil cópias."
Disco de platina
Mais um indicador da retração do mercado. Até janeiro de
2004, para ganhar o certificado
"disco de ouro", um álbum precisava vender 100 mil cópias.
Para "disco de platina", 250
mil. Atualmente, "disco de ouro" significa 50 mil cópias, e
"disco de platina", 100 mil.
A diminuição de parâmetros,
para Marcelo Castello Branco,
presidente da EMI Music Brasil e América Latina, não é encarada com pessimismo.
"O mercado mudou muito,
não se define mais pelo número
de cópias vendidas. Hoje, ele
está intimamente ligado às características dos contratos que
firmamos com os artistas. A
rentabilidade não é mais definida pelo número de cópias físicas vendidas. Hoje temos
maior rentabilidade com vendas menores, diversificação de
investimentos, além do crescimento do mercado digital. Nos
adaptamos ao novo mercado."
Segundo a ABPD, em 2008 o
formato CD respondeu por
61% do faturamento; o DVD,
por 27%; o digital, por 12%.
"Acredito na convivência dos
mercados físico e digital: eles
são complementares, nunca
excludentes. A substituição do
sentido de posse pelo de acesso
trouxe mudanças no comportamento do consumidor. Temos de levar em conta a realidade socioeconômica do Brasil,
sobretudo o crescimento da
classe C durante o governo Lula, além da política de inclusão
digital que foi adotada", aponta
Castello Branco, da EMI.
O mercado de venda de discos diminuiu, mas ainda há os
best-sellers. Segundo Leonardo Ganem, da Som Livre, "os
sertanejos e os religiosos sempre vão bem. E a novela ainda é
uma franquia muito boa".
Para os independentes, o encolhimento reflete em números mais modestos do que os
das gravadoras grandes. "Ao
lançarmos um CD de um artista internacional, nos contentamos com venda de 5.000 peças.
Já para um nacional seria entre
10 mil e 30 mil", afirma Marcelo Affonso, diretor do selo ST2.
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