|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Novo "Macunaíma" é lançado na França
BETINA BERNARDES
de Paris
Os leitores franceses estão se habituando cada vez mais a ver nomes brasileiros nas livrarias, e não
é apenas por causa do fenômeno
Paulo Coelho ou do sempre bom
de vendas Jorge Amado.
Nesta semana, chegou às livrarias uma nova edição de ``Macunaíma'', de Mário de Andrade, publicada pela Stock/Unesco.
``Sagarana'', de Guimarães Rosa, também ganhou sua primeira
versão francesa, pela editora Albin
Michel.
No dia 12 de fevereiro, será a vez
de Jô Soares se tornar um nome familiar na França, com a publicação de ``O Xangô de Baker Street'',
que na versão local se chamará
``Élémentaire, Ma Chère Sarah''
(elementar, minha cara Sarah)
-leia texto ao lado.
Desafio
A tradução de autores como Mário de Andrade e Guimarães Rosa
se mostra um dos principais desafios para as versões francesas de
suas obras.
Jacques Thiériot, 65, foi quem
traduziu os livros desses dois autores que chegaram recentemente às
livrarias.
Se ``Sagarana'' manteve o nome
original, ``Macounaïma'' ganhou
um trema e uma letra a mais para
que a pronúncia se aproximasse o
máximo possível da brasileira.
``Considero Macunaíma meu irmão brasileiro'', disse à Folha
Thiériot. Esse foi o primeiro livro
que ele leu quando morou no Brasil, nos anos 70, como diretor da
Aliança Francesa do Rio e de São
Paulo.
Segundo Thiériot, foi paixão à
primeira leitura. Logo depois, começou o trabalho de tradução, que
duraria quatro anos.
``Tive a sorte de começar minha
obra de tradutor por `Macunaíma', texto fundamental da literatura brasileira contemporânea, no
qual enfrentei uma série de dificuldades. Isso me ajudou muito para
resolver problemas nas traduções
de outros autores, de Guimarães
Rosa em particular'', afirma.
Nas traduções para o francês, ele
exige que conste a menção ``traduzido do brasileiro''.
`` `Macunaíma' é o primeiro livro escrito em brasileiro, o próprio Mário de Andrade dizia que
era uma obra em brasileiro. Logo,
não se pode dizer que é traduzido
do português simplesmente, nem
mesmo do português do Brasil.''
A versão francesa da Stock/Unesco foi coordenada por Pierre
Rivas. Além do texto, traz um prefácio crítico e artigos sobre a obra
de Mário de Andrade.
"Sagarana"
Se, para traduzir ``Macunaíma'',
Thiériot levou quatro anos, para
``Sagarana'' foram necessários
apenas 14 meses.
``Tive o trabalho paradoxal, pois
já havia traduzido antes a mais difícil obra de Guimarães Rosa, `Tutaméia'. Ele tinha chegado a um estilo muito condensado e rebuscado, cada palavra era uma dificuldade, havia três ou quatro possibilidades de tradução. `Sagarana' foi
menos difícil, mas também tive
que fazer um esforço grande.''
Thiériot é um dos principais tradutores de obras brasileiras na
França. Há 20 anos lidando com o
assunto, ele já traduziu cerca de 40
textos, que vão da literatura ao teatro, passando pelo cinema.
É presidente há oito anos do Colégio Internacional de Tradutores
Literários, que reúne na França
cerca de 400 profissionais de 58
países.
Thiériot levou para o francês autores como Antonio Callado, Clarice Lispector, Oswald de Andrade
e João Ubaldo Ribeiro, peças de
Nelson Rodrigues e Chico Buarque e a versão francesa de ``Eu Sei
que Vou te Amar'', de Arnaldo Jabor.
Nos tempos em que morou em
São Paulo, era também diretor do
teatro Aliança Francesa. Nessa
função, conheceu o diretor Antunes Filho, com quem trabalhou na
adaptação teatral de ``Macunaíma''.
``O espetáculo durou cinco anos
e fez grande sucesso não só no Brasil, mas também aqui na Europa.
Foi uma experiência fabulosa'',
lembra.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|