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20 anos de rock
Reprodução
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Ben Fong-Torres, que trabalhou na revista "Rolling Stone" por 11 anos, como repórter e editor |
Compilação dos melhores textos de Ben Fong-Torres, consagrado editor da "Rolling Stone" nos anos 70, conta bastidores da cena pop da época
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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha, em San Francisco
Pense em um nome importante
da música pop na década de 70:
Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi
Hendrix, Paul McCartney, Bob
Dylan?
Ben Fong-Torres entrevistou
todos eles. E não foram depoimentos quaisquer, mas textos reveladores para a revista "Rolling
Stone", que surgiu na virada dos
anos 60/70 como a primeira publicação a tratar com respeito a
música e a cultura pop. Repórter
e editor da "RS" por 11 anos,
Fong-Torres foi um dos grandes
responsáveis por uma linha editorial baseada em evolução e ousadia. Está entre os nomes mais
respeitados do jornalismo pop
em todos os tempos.
Tem hoje 55 anos, dirige um site de música na Internet (www.myplay.com) e lança uma coleção de seus melhores textos: "Not
Fade Away - A Backstage Pass to
20 Years of Rock and Roll" (Not
Fade Away - Uma Credencial para os Bastidores de 20 Anos de
Rock and Roll).
Antes de ler alguns trechos em
uma livraria da região de San
Francisco (onde nasceu e mora
até hoje), Fong-Torres falou à Folha. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Na entrevista com Sly
Stone, no livro, ele prega: "Nunca vamos nos vender! Nunca vamos nos vender!". Era muito importante dizer isso na época. O
sr. acha que a mensagem ainda
faz sentido?
Ben Fong-Torres - Nos anos 80,
gente como Bruce Springsteen e,
nos 90, alguém como... estou tentando achar um nome...
Folha - Kurt Cobain, do Nirvana?
Fong-Torres - Pode ser, mas esse se acabou de tanto dinheiro.
Ainda há artistas com princípios
sobre como gostariam de levar
suas vidas. Nem sempre funciona,
porque a realidade financeira fala
mais alto. Mas Springsteen é um
exemplo de músico que, sem se
vender, se tornou tão popular que
pode manter seu discurso e falar
das coisas que julga importantes.
Por várias razões, as massas vieram a ele, fizeram dele um sucesso
comercial . Algumas pessoas podem ver isso como "se vender",
mas Springsteen manteve sua integridade.
Folha - O que define um artista
que "se vendeu"?
Fong-Torres - Fazer concessões
em seus princípios básicos, para
vender mais discos, mais ingressos e ganhar mais dinheiro. Em
vez de ganhar dinheiro com aquilo que gostaria de fazer.
Folha - Quem se vendeu, então?
Fong-Torres - Difícil dizer...
Talvez o Jefferson Airplane, que
passou por tantas convulsões e virou Jefferson Starship, depois só
Starship.
Folha - No capítulo sobre Janis
Joplin, ela reclama que a "Rolling Stone" deveria apoiá-la, e
não fazer críticas. Naquela época, a "Rolling Stone" apoiava
determinados artistas com
quem dividia certos ideais?
Fong-Torres - Não! Nós tentávamos ser uma revista objetiva
cobrindo a cena da época. Não tínhamos obrigação de apoiar artistas só porque eram de San
Francisco, por exemplo. Essa história de crítica... Dependia do repórter que cobria o show. Se o cara era fã daquele tipo de música,
podia elogiar... Se era fã, mas estava triste por causa da namorada,
criticava... Puro acaso, nada predeterminado.
Folha - Na entrevista com Janis Joplin, quem telefonou foi
ela, e sem avisar. No capítulo sobre Jim Morrison, o sr. o encontra por acidente, porque fazia
uma visita a uma pessoa que
morava no andar de baixo da
namorada dele. Hoje, entrevistas são todas arranjadas com assessores de imprensa. As entrevistas espontâneas acabaram?
Fong-Torres - Até podem acontecer, mas muito raramente. Na
época da "Rolling Stone", estávamos praticamente sozinhos ao
prestar atenção em música e cultura pop. Agora, todo mundo
mundo cobre esse território, e os
artistas escolhem com quem falar.
Cinema, então, é uma indústria
que há 20 anos faz divulgação assim: deixando os jornalistas bem
felizes, com passeios e promoções. Veja só o que acontece no
Globo de Ouro... No rock já acontecia também, mesmo naquele
tempo. Quando Alice Cooper lançava um disco, a gravadora dava
festas que pareciam carnavais. Ridículo.
Folha - Bem, faz parte do jogo...
Fong-Torres - Isso é rock and
roll! No nosso caso, ser da "Rolling Stone" fazia a diferença. Algumas pessoas sabem lidar tão
bem com a mídia... Podem se fingir de sinceras, de vulneráveis...
Na entrevista com Marvin Gaye,
que está no livro, ele diz isso: "Se
você fosse da revista "Life", eu estaria de terno e gravata". Mas, como
eu era da "Rolling Stone", ele me
ofereceu um baseado.
Folha - Se o sr. tivesse 20 anos
hoje e estivesse começando, onde gostaria de trabalhar? Quem
é a"Rolling Stone" do ano 2000?
Fong-Torres - Se eu fosse um
garoto, estaria metido com Internet, TV, transmissões por satélite.
E tentaria uma vaga na revista on-line "Salon.com". Claro que outros lugares me dariam mais visibilidade, mas eu tentaria um esquema especial, fazendo matérias
de maior peso, que atrairiam mais
atenção.
Folha - E o que o sr. acha da
"Rolling Stone" hoje?
Fong-Torres - Admito: não leio.
No máximo, folheio. É verdade
que agora correm atrás de modas
e celebridades, mas acho que
mantiveram um jornalismo de
qualidade. Outro dia eu estava
num programa de rádio em Chicago e um ouvinte perguntou: "O
sr. pode me dizer em que dia Jan
Wenner (fundador da revista e
ainda hoje seu dono) se vendeu"?
A resposta é: no dia em que criou
a "Rolling Stone", porque sempre
viu a revista como um negócio.
Ele saía dizendo pela redação: "Isso aqui não é imprensa alternativa! Isso aqui não é um bar!". Jan
Wenner sempre quis construir
um império.
Folha - No livro, o sr. descreve
reuniões de pauta em que se decidia fazer uma entrevista com
um artista só por ele ser legal,
não porque vendia muitos discos. E, hoje, ainda há espaço para esse tipo de coisa? Na "Salon.com", por exemplo?
Fong-Torres - Dou graças a
Deus pela Internet e as novas mídias. Antes da Internet, as revistas, jornais, rádios, produtoras de
cinema, todo mundo seguia consultores e pesquisas de mercado.
Agora, com a fragmentação que a
Internet trouxe, ficou claro que
não é possível todo mundo fazer a
mesma coisa. Ainda é possível ousar.
Folha - Mas, hoje, as revistas
também não estão todas iguais?
"Maxim", "Loaded", "FHM",
"Details", "Gear", "Stuf"...
Fong-Torres - Assim caminha o
mundo dos negócios. As pessoas
encontram uma fórmula -ou, às
vezes, a fórmula é que bate de
frente com elas. Até uma publicação mais tradicional, como a "Esquire", tem de ir em busca dos leitores mais jovens. Veja o que está
acontecendo com esses programas de perguntas e respostas na
TV aqui dos EUA. É a mesma coisa, estão em todos os lugares. Infelizmente, vai acabar acontecendo a mesma coisa na Internet.
Folha - No capítulo sobre os
Stones, o sr. destaca uma menina na platéia, xingando Mick
Jagger de "velho e cansado". Isso em 1973! No capitulo sobre
Tina Turner, o sr. diz que ela estava com as pernas bonitas,
"apesar de já ter 32 anos". Ao
descrever Jim Morrison, o sr. nota que ele está envelhecido
-na época, Morrison tinha 27
anos. Será que o rock and roll
faz sentido depois dos 30 anos?
Fong-Torres - Aparentemente,
sim. É só olhar para as multidões
que ainda acompanham os Stones, Tina Turner, Carlos Santana... Não são só os quarentões que
estão lá. Isso é hilário. No meu
tempo de faculdade, a gente achava melhor morrer antes dos 30.
Mick Jagger vivia dizendo que
não estaria num palco aos 30
anos. Agora, aos cinquenta e poucos, ele ainda rebola. Quando entrevistei Jim Morrison, perguntei
se ele percebia que estava gordo. E
ela falou que era por causa do
"processo de envelhecimento".
Ele tinha 27 anos, não estava gordo coisa nenhuma. Era só uma
barriguinha de cerveja. Mas é assim que a gente vê o mundo quando é jovem e cheio de energia.
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