São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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Primeiro, Dave Grohl, do Foo Fighters, senta na bateria e relembra no Rock in Rio os tempos de Nirvana

1991 - 2001: Brasil desenterra o grunge

Divulgação
O grupo de Seattle Mudhoney, que vem ao Brasil pela primeira vez este mês; Mark Arm (primeiro à esq.), o vocalista, falou à Folha


Agora, o histórico Mudhoney fará shows inéditos no país, dez anos após a explosão do rock de Seattle

LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma feliz coincidência cósmica, o Brasil presta em 2001 a melhor (pelo menos a primeira) homenagem mundial à última grande revolução do rock, exatamente no aniversário de dez anos da explosão da cena de Seattle, o famoso grunge, termo para designar o movimento que tornou o punk rock comercialmente viável.
1991, vale lembrar, foi o ano de turnês históricas e de fervorosos lançamentos de discos no rock.
Foi o ano em que um terremoto sonoro vindo do noroeste da América abalou as estruturas da música e dos costumes jovens, espantou das paradas artistas mega como Madonna e Michael Jackson e fincou em seu topo a bandeira do barulho, produzido pelas guitarras de um bando de garotos com cabelos longos e sujos e vestidos com camisas de flanela.
Foi o ano do lançamento do álbum "Nevermind", do Nirvana.
2001, vale comemorar, é o ano em que o Brasil viu o hoje guitarrista Dave Grohl, durante o show do Foo Fighters no Rock in Rio, sentar à bateria e lembrar seus áureos tempos do Nirvana.
E é o ano também que verá em ação, durante uma celebrada turnê que se inicia em Porto Alegre no próximo dia 14, a histórica banda Mudhoney.
A Mudhoney, que toca ainda em Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia, Rio e São Paulo (dia 21), foi uma das mais importantes bandas do movimento de Seattle, que borbulhava desde o final dos anos 80 e foi eclodir no final de 1991, quando a banda já colecionava três discos.
Grupo que sempre ficou no andar de baixo do sucesso de "parceiros" como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden, o Mudhoney na verdade ganhou fama exatamente por rir sempre do modismo que assolou a América depois da "descoberta" do grunge, termo que tem origem na própria banda.
"Consta que em um fanzine da época eu usei a palavra "grungy" para descrever o som do Mudhoney. Mas não foi uma palavra criada por mim. Eu já tinha ouvido em outros lugares", disse em entrevista à Folha o vocalista do Mudhoney, o elétrico Mark Arm.
"O Brasil é muito sortudo em ver o Mudhoney ao vivo", falou Dave Grohl, "soldado" da revolução de Seattle, dias antes do show da banda Foo Fighters no Rock in Rio, ao ser informado pela Folha da turnê brasileira do Mudhoney.
Depois de seis álbuns e 12 anos de carreira, a banda havia sido dissolvida no ano passado, com o abandono do baixista Matt Lukin. Embora não venha ao Brasil acompanhando Arm, o guitarrista Steve Turner e o baterista Dan Peter, Lukin voltou ao grupo para uma miniexcursão nos EUA, que acabou no último dia 20.
Foi muito graças ao Mudhoney e ao Nirvana de Dave Grohl que o rock fatigado do final dos 80 encontrou em Seattle a forma que mudou o rumo da música alternativa no planeta e fez conceitos como o punk e o próprio rock se transformarem em pop.
Filhote das bandas heavy dos anos 80, a fervilhante cena de Seattle veio ao mundo graças ao hoje extinto semanário inglês de rock "Melody Maker".
A lendária gravadora Sub Pop, sede oficial da explosão grunge, em dificuldades financeiras, embora com boas bandas nas mãos, convidou jornalistas ingleses para visitar a gravadora, já que a América não dava bola.
Everett True, renomeado repórter do jornal, emplacou em 1989 uma reportagem de duas páginas sobre o vigoroso som de Seattle. Depois que o Nirvana, Mudhoney e uma horda de bandas americanas fizeram famosas turnês pela Europa, em 1991, a coisa pegou.
Com o lançamento do álbum do Nirvana, "Nevermind", em setembro de 1991, Seattle se transformou na cidade mais famosa do mundo do entretenimento. Tanto que a revista americana "Spin", enfim, acordou para publicar que Seattle estava para o rock assim como Belém para o cristianismo.


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