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Por trás da fama
TVs se armam para enfrentar avalanche de projetos de controle da programação
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem todo mundo que trabalha
na TV quer aparecer. Avessos a
entrevistas e publicidade, os lobistas das grandes redes só buscam
ibope no Congresso, onde atuam
para defender interesses do setor.
Em 2004, essas "celebridades"
dos corredores, representantes de
um dos mais poderosos lobbies
do país, deverão ter muito trabalho: a TV espera para este ano
uma avalanche de projetos de
controle da programação.
Em 2003, o número de propostas relacionadas à radiodifusão
(rádio e televisão) cresceu 400%
em relação a 2002. Foram 119 tramitando pelo Congresso.
Os projetos podem ser enquadrados basicamente em três categorias. A primeira seria a dos que
beneficiam as TVs, como a redução de impostos. Normalmente,
são apresentados por deputados a
pedido de executivos e até proprietários de empresas de TV.
A segunda categoria fica com os
contrários a seus interesses. Aí seria incluída a maioria dos que
propõem controlar a programação de alguma maneira (proibir
propaganda de cigarro, obrigar a
transmitir a "Voz do Brasil).
Por último, vêm as chamadas
"idéias que caem de pára-quedas
na radiodifusão". Criar um canal
só sobre energia nuclear e proibir
a divulgação da quantidade de
drogas apreendidas pela polícia
estão dentre os exemplos.
Na prática, os lobistas atuam
para levar adiante o que interessa
e emperrar os outros. Para isso,
"moram" no Congresso, acompanhando reuniões de comissões,
entrando em gabinetes e abordando políticos nos corredores.
Mapa da mina
Além desses executivos (Globo,
SBT, Record e Band têm representantes de peso em Brasília), as
redes contam com a assessoria
parlamentar da Abert (Associação de Emissoras de Rádio e TV).
A função está nas mãos de Stella
Cruz, 50, desde 2000. Ela começou a circular no Congresso em
1986, como assessora parlamentar de outros setores. Às terças,
quartas e quintas, passa o dia entre Câmara e Senado, armada de
celular, laptop e palmtop. Tem na
cabeça o mapa de parlamentares
"simpáticos" aos interesses das
TVs e dos "adversários".
"Faço uma triagem dos projetos
que não nos incomodam. Esses, a
gente só monitora. Mas há os que
temos de acompanhar, quando
há algum ponto que não interessa
à radiodifusão. São os mais nevrálgicos, aqueles em que nossa
ação é mais efetiva", diz Cruz.
"Aí "trabalhamos" o deputado,
ou seja, tentamos formar nele
uma opinião. E não é no papo,
mas com dados do setor."
Em alguns casos, monta-se um
esquema de mobilização. Os presidentes das entidades regionais
ligadas à Abert são acionados para contatar o deputado conterrâneo. "Quando é um parlamentar
a que não temos acesso, pedimos
auxílio para algum radiodifusor
da mesma região do político."
Cruz trabalha em parceria com
os lobistas das grandes redes.
Muitas vezes, reuniões importantes acontecem simultaneamente.
"Quarta-feira é o dia "top",
quando as comissões vitais para
nós se reúnem. Aí fico saindo de
uma sala e indo para outra. Divido o trabalho com outros profissionais da Abert e com o pessoal
das TVs. Globo, Record e SBT têm
uma boa equipe aqui em Brasília.
Ficamos ligando um para o outro,
trocando informações", diz.
As TVs também fazem o papel
de pedir aos políticos que proponham leis de seus interesses.
"Normalmente, assuntos mais
macros, de relevância empresarial, são conversados entre o parlamentar e o executivo da TV ou o
próprio dono. E a gente atua fazendo monitoramento, vendo se
o que foi conversado foi feito."
Jogo
Segundo Stella Cruz, costuma-se saber o conteúdo de um projeto antes mesmo de ele ser apresentado. Assim, é possível até evitar que algo contrário aos interesses das TV entre na pauta. "Normalmente sabemos antes o que
vai ser proposto, porque é um
convívio diário. Às vezes, o próprio deputado nos conta. Outras,
ouvimos nos corredores."
De acordo com a assessora da
Abert, a maior parte dos congressistas a recebe bem. "Há alguns
muito difíceis de falar, pelo volume de trabalho que têm. Aí a gente consegue conversar no corredor, por dois minutos e olhe lá."
As reuniões com os autores de
propostas que desagradam as TV
não são tão fáceis. "O deputado
me recebe bem, mas diz: "Estou
fechado com esse projeto e não
mudo uma vírgula". Eu respondo:
"Então, deputado, infelizmente
vamos ter de trabalhar contra essa
proposta". E o jogo começa."
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