São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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'Arrisque-se ou vá para casa'

Tom Cruise diz procurar públicos diferentes a cada trabalho e que sua vida "atingiu novo nível de maluquice'; seu mais recente filme, "Operação Valquíria", tem lançamento no Brasil nesta terça, com a presença do ator

DA REPORTAGEM LOCAL

Nesta terça-feira, Tom Cruise participa no Rio do lançamento de seu filme mais recente, "Operação Valquíria", que chega aos cinemas no dia 13. Nele, o ator interpreta um coronel alemão que comanda um complô para matar Hitler.
Aos 46 anos e 28 de carreira, "Operação Valquíria" é o 33º filme em que Cruise atua. Em entrevista à jornalista Lynn Hirschberg, da revista do "New York Times", o ator fala sobre o início da carreira em Los Angeles, ao lado de Sean Penn, e do excesso de exposição na mídia -mais recentemente, pelo casamento com a atriz Katie Holmes e pelo nascimento de sua filha, Suri, 2, com quem diz sair às ruas para pedir doces no Dia das Bruxas.

 

PERGUNTA - Devem oferecer todo tipo de filme a você. Por que decidiu fazer "Operação Valquíria", que é a história de Claus von Stauffenberg, um oficial alemão que criou uma conspiração para matar Hitler?
TOM CRUISE
- Procuro o tempo todo textos que sejam originais, que entretenham e que sejam um desafio. Quando "Nebraska" saiu, Bruce Springsteen falou algo sobre cada álbum seu ter um público, e cada público ser diferente. Isso se aplica a meus filmes -cada um tem um tipo de plateia. Gosto disso. Quis fazer "Magnólia" (1999) e "Operação Valquíria".

PERGUNTA - Você foi escolhido para atuar em "Toque de Recolher" quando tinha apenas 18 anos. Sua mãe o incentivou?
CRUISE
- Sim. Minha mãe, que fazia teatro comunitário, me disse: "Vá lá, faça". Mas eu não era o sujeito que atuava nas peças da escola. Eu era o cara que economizava dinheiro e ia ao cinema. Sempre trabalhei, desde muito jovem. Vendia cartões de porta em porta, distribuía jornais. E gastava meu dinheiro e meu tempo no cinema.

PERGUNTA - Você se lembra da primeira viagem que fez a Los Angeles?
CRUISE
- Sim. Conheci Sean Penn quando estávamos filmando "Toque de Recolher" (1981), e depois ele disse: "Você precisa vir a LA". Então peguei um avião para lá. Penn me buscou no aeroporto e me levou para conhecer a cidade. Fomos à casa de Nicholson. E à de Brando. E à de Dustin Hoffman. Não entramos, pensamos "O que será que esses caras estão fazendo agora?".

PERGUNTA - Você se preocupa com a ideia de que a fama dificulta seu desaparecimento em nome de um personagem?
CRUISE
- A fama tem vantagens e desvantagens. Depois de "Top Gun" (1986), as pessoas disseram "Como você vai poder fazer outros tipos de personagem?". Mas, seja qual for a percepção que as pessoas têm de mim, essa não é a minha realidade. Bem, é, até certo ponto; mas até certo ponto, não. Vejo-me como pai, marido, ator. Todos os dias, faço a escolha de me lançar na vida.

PERGUNTA - Os últimos anos têm sido malucos para você. Isso é resultado de "se lançar na vida"?
CRUISE
- Talvez [risos]. Já passei por fases malucas, mas este ano sem dúvida alguma atingiu um novo nível de maluquice. Era algo do tipo "amarrem os cintos, porque vamos bater no muro". Não sei para onde isso está indo, mas vou continuar com o pé no acelerador. Segurem-se, crianças! [risos] Tem sido uma loucura.

PERGUNTA - Você lê o que se escreve a seu respeito?
CRUISE
- Tenho lido. Venho passando por isso há muitos anos. É preciso ter casca muito grossa e também ser muito sensível. Mas os últimos anos têm sido radicais. E você pensa: "Isso está passando dos limites".

PERGUNTA - Já sentiu que poderia perder seu público? Que seu meio de ganhar a vida -fazer cinema- pode ser tirado de você?
CRUISE
- Não sei. Tudo o que sei é que o medo sempre esteve presente em minha vida, mas é preciso ignorá-lo. As pessoas sempre dizem "você é só isso". Depois de "Negócio Arriscado" (1983), disseram "você é só isso". Depois de "Top Gun", falaram "você não passa disso". Depois de "Negócio Arriscado", só me ofereciam comédias sexuais, e eu disse "não". Diziam que, se eu recusasse, perderia meu público. E eu não o perdi. Não importa o que esteja acontecendo, não importa a pressão ou o escrutínio, sempre volto àquele garoto que só quer fazer filmes. Não quero ser o que querem que eu seja. [...] Já ignorei essas opiniões antes e vou fazê-lo de novo.

PERGUNTA - Recentemente você foi convidado-surpresa num churrasco para Matt Lauer, apresentador do "Today". Há três anos, você teve uma discussão acalorada com ele no programa sobre o uso de drogas psicotrópicas no tratamento da depressão pós-parto.
CRUISE
- O churrasco foi divertido. Fiz as pessoas rirem. Elas se surpreenderam.

PERGUNTA - Presume-se que você não faria algo assim, que você está numa torre de marfim.
CRUISE
- Não me surpreende que pensem isso, mas "torre de marfim" soa como se eu estivesse me aposentando. O que eu acho é: arrisque-se ou vá para casa. Ou então, arrisque-se e seja mandado para casa [risos].

PERGUNTA - Os fatos em sua vida parecem ter ficado especialmente extremos na época de seu casamento com Katie Holmes.
CRUISE
- Não tenho palavras para descrever o que foi escrito na época. Não havia nada que pudesse fazer para impedi-lo. Soube que Katie era forte quando a conheci, mas, por mais que você possa avisar, você não sabe o que é essa vida até estar mergulhado nela. Quis essa aventura, mas não foi essa a vida que quis para minha família.

PERGUNTA - Alguma vez você gostaria de poder fazer algo normal com Suri, tipo sair para pedir doces no Dia das Bruxas?
CRUISE
- Mas eu levo, sim, as crianças para pedir doces no Dia das Bruxas. Katie e eu nos fantasiamos, pintamos o rosto de Suri. Vamos a bairros diferentes e nos divertimos a valer.


Tradução de CLARA ALLAIN


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