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'Arrisque-se ou vá para casa'
Tom Cruise diz procurar públicos diferentes a cada trabalho e que sua
vida "atingiu novo nível de maluquice'; seu mais recente filme, "Operação Valquíria", tem lançamento no Brasil nesta terça, com a presença do ator
DA REPORTAGEM LOCAL
Nesta terça-feira, Tom Cruise participa no Rio do lançamento de seu filme mais recente, "Operação Valquíria", que
chega aos cinemas no dia 13.
Nele, o ator interpreta um coronel alemão que comanda um
complô para matar Hitler.
Aos 46 anos e 28 de carreira,
"Operação Valquíria" é o 33º
filme em que Cruise atua. Em
entrevista à jornalista Lynn
Hirschberg, da revista do "New
York Times", o ator fala sobre o
início da carreira em Los Angeles, ao lado de Sean Penn, e do
excesso de exposição na mídia
-mais recentemente, pelo casamento com a atriz Katie Holmes e pelo nascimento de sua
filha, Suri, 2, com quem diz sair
às ruas para pedir doces no Dia
das Bruxas.
PERGUNTA - Devem oferecer todo
tipo de filme a você. Por que decidiu
fazer "Operação Valquíria", que é a
história de Claus von Stauffenberg,
um oficial alemão que criou uma
conspiração para matar Hitler?
TOM CRUISE - Procuro o tempo
todo textos que sejam originais,
que entretenham e que sejam
um desafio. Quando "Nebraska" saiu, Bruce Springsteen falou algo sobre cada álbum seu
ter um público, e cada público
ser diferente. Isso se aplica a
meus filmes -cada um tem um
tipo de plateia. Gosto disso.
Quis fazer "Magnólia" (1999) e
"Operação Valquíria".
PERGUNTA - Você foi escolhido para atuar em "Toque de Recolher"
quando tinha apenas 18 anos. Sua
mãe o incentivou?
CRUISE - Sim. Minha mãe, que
fazia teatro comunitário, me
disse: "Vá lá, faça". Mas eu não
era o sujeito que atuava nas peças da escola. Eu era o cara que
economizava dinheiro e ia ao
cinema. Sempre trabalhei, desde muito jovem. Vendia cartões
de porta em porta, distribuía
jornais. E gastava meu dinheiro
e meu tempo no cinema.
PERGUNTA - Você se lembra da primeira viagem que fez a Los Angeles?
CRUISE - Sim. Conheci Sean
Penn quando estávamos filmando "Toque de Recolher"
(1981), e depois ele disse: "Você
precisa vir a LA". Então peguei
um avião para lá. Penn me buscou no aeroporto e me levou
para conhecer a cidade. Fomos
à casa de Nicholson. E à de
Brando. E à de Dustin Hoffman. Não entramos, pensamos
"O que será que esses caras estão fazendo agora?".
PERGUNTA - Você se preocupa com
a ideia de que a fama dificulta seu
desaparecimento em nome de um
personagem?
CRUISE - A fama tem vantagens
e desvantagens. Depois de "Top
Gun" (1986), as pessoas disseram "Como você vai poder fazer outros tipos de personagem?". Mas, seja qual for a percepção que as pessoas têm de
mim, essa não é a minha realidade. Bem, é, até certo ponto;
mas até certo ponto, não. Vejo-me como pai, marido, ator. Todos os dias, faço a escolha de me
lançar na vida.
PERGUNTA - Os últimos anos têm
sido malucos para você. Isso é resultado de "se lançar na vida"?
CRUISE - Talvez [risos]. Já passei por fases malucas, mas este
ano sem dúvida alguma atingiu
um novo nível de maluquice.
Era algo do tipo "amarrem os
cintos, porque vamos bater no
muro". Não sei para onde isso
está indo, mas vou continuar
com o pé no acelerador. Segurem-se, crianças! [risos] Tem
sido uma loucura.
PERGUNTA - Você lê o que se escreve a seu respeito?
CRUISE - Tenho lido. Venho
passando por isso há muitos
anos. É preciso ter casca muito
grossa e também ser muito sensível. Mas os últimos anos têm
sido radicais. E você pensa: "Isso está passando dos limites".
PERGUNTA - Já sentiu que poderia
perder seu público? Que seu meio de
ganhar a vida -fazer cinema- pode ser tirado de você?
CRUISE - Não sei. Tudo o que sei
é que o medo sempre esteve
presente em minha vida, mas é
preciso ignorá-lo. As pessoas
sempre dizem "você é só isso".
Depois de "Negócio Arriscado"
(1983), disseram "você é só isso". Depois de "Top Gun", falaram "você não passa disso". Depois de "Negócio Arriscado", só
me ofereciam comédias sexuais, e eu disse "não". Diziam
que, se eu recusasse, perderia
meu público. E eu não o perdi.
Não importa o que esteja
acontecendo, não importa a
pressão ou o escrutínio, sempre
volto àquele garoto que só quer
fazer filmes. Não quero ser o
que querem que eu seja. [...] Já
ignorei essas opiniões antes e
vou fazê-lo de novo.
PERGUNTA - Recentemente você
foi convidado-surpresa num churrasco para Matt Lauer, apresentador
do "Today". Há três anos, você teve
uma discussão acalorada com ele no
programa sobre o uso de drogas psicotrópicas no tratamento da depressão pós-parto.
CRUISE - O churrasco foi divertido. Fiz as pessoas rirem. Elas
se surpreenderam.
PERGUNTA - Presume-se que você
não faria algo assim, que você está
numa torre de marfim.
CRUISE - Não me surpreende
que pensem isso, mas "torre de
marfim" soa como se eu estivesse me aposentando. O que
eu acho é: arrisque-se ou vá para casa. Ou então, arrisque-se e
seja mandado para casa [risos].
PERGUNTA - Os fatos em sua vida
parecem ter ficado especialmente
extremos na época de seu casamento com Katie Holmes.
CRUISE - Não tenho palavras
para descrever o que foi escrito
na época. Não havia nada que
pudesse fazer para impedi-lo.
Soube que Katie era forte quando a conheci, mas, por mais que
você possa avisar, você não sabe o que é essa vida até estar
mergulhado nela. Quis essa
aventura, mas não foi essa a vida que quis para minha família.
PERGUNTA - Alguma vez você gostaria de poder fazer algo normal
com Suri, tipo sair para pedir doces
no Dia das Bruxas?
CRUISE - Mas eu levo, sim, as
crianças para pedir doces no
Dia das Bruxas. Katie e eu nos
fantasiamos, pintamos o rosto
de Suri. Vamos a bairros diferentes e nos divertimos a valer.
Tradução de CLARA ALLAIN
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