São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Oscar movimenta mercado editorial

Chegam às lojas reedições ou edições especiais de livros que originaram filmes com indicações aos prêmios deste ano

Para alguns editores, boas produções alavancam as vendas em livrarias, mas apenas de obras que já têm certo potencial e qualidade


Divulgação


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

No enredo de "O Leitor", romance do alemão Bernhard Schlink, publicado em 1995, cuja adaptação cinematográfica concorrerá a cinco Oscars neste ano -incluindo melhor filme- , o protagonista abandona a família e distancia-se da profissão para se dedicar à leitura.
Não o faz numa busca por enriquecimento intelectual pessoal, mas para gravar, em voz alta, obras das quais gosta em fitas cassete que envia à mulher que ama -uma ex-oficial nazista analfabeta, que se encontra presa numa cadeia.
Entre os temas que tornam "O Leitor" uma das produções mais interessantes da corrida pelas estatuetas, o questionamento sobre o quanto a literatura pode fazer com que a vida de alguém seja mais ou menos feliz é o mais envolvente.
Reflexões como esta podem, certamente, ser motivadas por um filme. Mas nada como um mergulho na obra literária que lhe deu origem para desdobrar e aprofundar ideias mais abstratas do que aquelas reveladas pelas imagens na tela.
Por conta disso, vale a pena conferir a lista dos livros que inspiraram os principais concorrentes a prêmios neste ano (leia quadro ao lado).
Entre eles, há títulos de considerável qualidade, como o próprio "O Leitor" e o conto de Scott Fitzgerald que inspirou "O Curioso Caso de Benjamin Button", que está na coletânea "Seis Contos da Era do Jazz e Outras Histórias", reeditada agora pela José Olympio, acompanhada de oportuna tarja com o logo oficial da produção -candidata a 13 Oscars, entre eles, filme, ator e direção.
Para os editores ouvidos pela Folha, a publicação de livros que "pegam carona" em filmes de grande repercussão pode ser um filão bastante rentável. Mas a maioria concorda que a regra vale apenas para os bons textos. Em geral, um ótimo filme não consegue salvar um mau livro.
"O leitor iniciado frequenta livrarias, lê resenhas nos jornais e por esses meios escolhe os livros que vai comprar. Mas um público mais amplo, que não segue esse caminho, pode ser atraído a ler por conta da grande divulgação de um lançamento no cinema", diz Maria Amelia Mello, da José Olympio.
Já Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, acredita que cada caso é uma história diferente, mas, em geral, as vendas de um livro aumentam se este já tiver, por si só, uma boa trajetória. "O que vendia bem antes, sozinho, melhora com o filme. O usual é que os títulos já com potencial tenham seu desempenho incrementado depois que a adaptação para o cinema chega às telas", diz.
E dá o exemplo de "O Menino do Pijama Listrado", romance juvenil de John Boyne, que não teve muita divulgação pela imprensa, mas que vendeu bastante, na base do boca-a-boca.
Após a estreia do filme, ainda que com resenhas negativas nos jornais, a obra entrou nas listas de mais vendidos.
A Companhia das Letras prepara uma reedição de "Sua Resposta Vale um Bilhão", romance do indiano Vikas Swarup que deu origem à "Quem Quer Ser um Milionário?", filme de Danny Boyle que está entre os queridinhos da premiação, indicado a dez Oscars, entre eles, os de melhor filme e diretor.
Responsável pela publicação de "O Leitor" no Brasil, Luciana Villas Boas, da Record, acha que nem toda versão cinematográfica beneficia um livro. "Em geral, o lançamento de um bom filme, com distribuição forte, conta positivamente para as vendas de um livro. Mas o filme tem que ser bom e forte, e o livro, mais ainda", diz.

Impacto midiático
Roberto Feith, da Objetiva, não crê que bons filmes possam salvar livros ruins. "Um grande filme ajuda a vender o livro no qual foi baseado, da mesma forma que um grande livro ajuda a atrair interesse no filme no qual foi inspirado. O fator fundamental para definir se um ajuda o outro, é, naturalmente, a qualidade, de um e do outro."
A Objetiva/Alfaguara acaba de lançar "Foi Apenas um Sonho", no qual o filme homônimo, com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, foi baseado. "O romance de Richard Yates é extraordinário, mas totalmente desconhecido aqui. Com o filme concorrendo ao Oscar, com grandes atores, há a possibilidade de uma ampliação no número de leitores do livro, que dificilmente seria alcançada sem o impacto midiático do filme." "Foi Apenas um Sonho" está indicado a três Oscars.


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