São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Crítica/cinema/"Educação"

Tom moralista estraga drama com protagonista simpática

Grande trunfo do filme é a atriz Carey Mulligan, que faz a adolescente Jenny

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"Educação" tinha tudo para ser um grande filme: uma história simples, porém instigante, sobre uma adolescente na opressora Inglaterra dos anos 60, perfeita reconstituição de época, elenco de primeira e um roteiro assinado por Nick Hornby, o autor britânico de sucessos como "Alta Fidelidade" e "Um Grande Garoto".
Infelizmente, "Educação" murcha como um balão na segunda metade, e o final parece corroborar tudo que o filme critica com tanta graça e ousadia em sua primeira parte.
Passado em 1961 e inspirado na autobiografia da jornalista britânica Lynn Barber, "Educação" conta a história de Jenny Mellor, uma adolescente de 16 anos que vive com os pais em um subúrbio de Londres.
Jenny é a melhor aluna da classe e parece destinada a uma vaga em Oxford, como sonha seu pai, Jack (Alfred Molina). Jenny tem um espírito livre: obcecada pela França, que vê como um idílio de romantismo, criatividade e liberdade artística, sonha em visitar Paris e passa as tardes ouvindo discos de Jacques Brel e Juliette Greco.
Mas a vida de Jenny não tem nada disso. Em lugar da boemia de Paris, ela passa os dias aturando aulas tediosas na escola e sendo cortejada por um adolescente desajeitado e tímido, Graham (Matthew Beard).
Até que ela conhece David (Peter Sarsgaard), um homem mais velho. David é um charmoso "bon-vivant", amante de boa música e bons restaurantes, por quem a adolescente logo cai de amores. David leva Jenny para clubes de jazz e museus. A promessa de uma vida livre e excitante com David faz Jenny pensar em largar tudo e esquecer Oxford. Parece bom demais para ser verdade. E é: David tem um segredo, que vai colocar em risco o romance e os sonhos da adolescente.

Guinada
É a partir da revelação desse segredo que o filme desmonta, até descambar num final moralista. É uma grande decepção. Até então, o filme caminhava com bom humor e leveza, mostrando a rigidez da sociedade inglesa dos anos 1960 e seu efeito severo em uma adolescente sonhadora. "Tudo aqui é cinza, nada é divertido!", diz a menina, em um desabafo para a diretora da escola (Emma Thompson).
O maior trunfo de "Educação" é a atriz Carey Mulligan, 24, que interpreta Jenny. Mulligan, que estreou em "Orgulho e Preconceito" (2005), faz uma Jenny adorável. Dá vontade de torcer por ela. Infelizmente, o roteiro de Nick Horny dá uma guinada moralista no fim e parece costurar as situações com pressa. É uma pena.
Jenny é uma das personagens mais simpáticas dos últimos tempos e merecia um fim mais adequado. A impressão que fica é de que a opressão é inescapável, mesmo para uma menina brilhante e aventureira como ela.


EDUCAÇÃO

Direção: Lone Scherfig
Produção: Reino Unido, 2009
Onde: nos cinemas no dia 19
Classificação: não informada
Avaliação: regular




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