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TEATRO
Dirigida por Cibele Forjaz, estréia em SP peça de Tennessee Williams
Paradoxos do desejo guiam bonde da Companhia Livre
VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Criada há três anos em São Paulo, a Companhia Livre (de "Toda
Nudez Será Castigada", "Os Sete
Gatinhos") cultiva uma máxima:
"As pessoas valem mais do que as
coisas", afirma a atriz e diretora
Cibele Forjaz, 35.
Na nova montagem da companhia, porém, a protagonista desmorona em cena e leva a reboque
aqueles com quem compactua
um torvelinho de desilusões.
Em "Um Bonde Chamado Desejo", cuja montagem estréia hoje
no Sesc Belenzinho, Tennessee
Williams (1911-83) conduz sua
Blanche Dubois por paredes sombrias da existência, labirinto quatro por quatro de um "corticinho", ilustra Forjaz, que pode ser
de Nova Orleans (EUA), onde originalmente se passa a história, ou
dos Campos Elíseos, bairro do
centro paulistano.
Numa visita à irmã Stella, que
está grávida, a professora de literatura Blanche Dubois como que
leva o derradeiro empurrão para a
queda vertiginosa desencadeada
por fatos do passado recente.
Fragilizada pela acusação de assédio aos alunos, que a leva à expulsão do colégio; pela morte do
marido, que comete suicídio depois de ser flagrado na cama com
outro homem; e pela sujeição à
prostituição, para citar algumas
zonas obscuras, Dubois (interpretada por Leona Cavalli) é exposta
a um jogo implacável.
A "ficha corrida" acima vem à
tona por incitação de Stanley Kowalski (Milhem Cortaz, de "A
Boa"), movido por instinto animal de defesa de território, antagonista arredio, mas que se deixa
envolver por Dubois e vice-versa,
num dos muitos paradoxos da
teia armada por Williams.
Entre desejos e contradesejos,
disputam espaço (afetivo, emocional, insano) em uma casa diminuta, sob cumplicidade de Stella (Isabel Teixeira). Juntam-se a
eles um quarto personagem, Harold Mitchell (João Signorelli),
amigo do casal que também desperta paixão em Dubois.
"Fica todo mundo fechado ali
naquele cubículo, acreditando
que quem conseguir vencer será o
são", afirma Forjaz. Tal intimidade forçada é estendida aos espectadores, dispostos em arquibancada sobre o palco (200 lugares).
Forjaz diz "adorar o mar que fica
entre a realidade dos personagens
e um rio subterrâneo que persegue todos os acontecimentos".
Melodrama acentuado em Nelson Rodrigues, a Cia. Livre mergulha agora no realismo de Williams. Leona Cavalli (Prêmio
Shell 2001 de melhor atriz por
"Toda Nudez Será Castigada")
identifica-se com os dois dramaturgos. "Tanto a Geni quanto a
Blanche são personagens de
obras-primas dos autores", diz
Cavalli, 32. "Elas têm um sentido
profundo das relações humanas."
A atriz procura desvendar enigmas em meio à humanidade latente. "As grandes personagens
femininas têm relação com a beleza e a delicadeza como subtexto.
A Blanche é a única que conheço
que apresenta essa sutileza como
texto, um contraponto à brutalidade do Stanley, mas que também
se reflete no lado escuro da própria personagem", afirma Cavalli.
Forjaz vê em Leona Cavalli simbiose com o "estado de alma" da
personagem. "A Blanche é um
pouco a metáfora do artista de
teatro, da atriz que acredita na
fantasia como forma de transformar o mundo, acredita que a realidade é aquilo que a gente inventa, a realidade transfigurada", diz.
O espetáculo tem cenografia e
figurinos concebidos por Simone
Mina. A luz é de Alessandra Domingues. A composição musical,
de Cacá Machado.
Além do Sesc, a produção soma
apoio da atriz Louise Cardoso,
que bancou cerca de US$ 10 mil
para aquisição dos direitos autorais da peça.
UM BONDE CHAMADO DESEJO.
De:Tennessee Williams.
Tradução: Vadim Nikitin.
Direção: Cibele Forjaz.
Com:Leona Cavalli, Milhem Cortaz, Peterson
Negreiros, Eudes Figueiredo, Dora
Carvalho, Vanessa Poitena.
Onde: Sesc Belenzinho - teatro (av. Álvaro Ramos,
991, tel. 0/xx/11/6605-8143).
Quando:
estréia hoje, às 20h; de sex. a dom., às
20h. Até 28/4.
Quanto: R$ 12.
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