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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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CRÍTICA

Obra é mergulho na alma do ícone sexual americano

CRÍTICO DA FOLHA

A cabará frustrado quem buscar em "Blonde", romance de Joyce Carol Oates sobre Marilyn Monroe, detalhes inéditos, sórdidos ou mirabolantes sobre a vida da loira platinada. Na versão bastante pessoal da escritora norte-americana, nem mesmo a verdade é o que parece ser. Como diz Oates, não é uma biografia.
A romancista amplia detalhes, aglutina fatos e pessoas, inventa episódios. De certo modo, "Blonde" é um "roman à clef" cuja chave nem sempre é fácil de identificar. Epítetos definem certas personalidades. O Ex-Atleta é o astro do beisebol Joe DiMaggio, o Dramaturgo é Arthur Miller, o Presidente é John Kennedy.
Marilyn, sabe-se, nunca foi santa. Transou para subir na carreira. O FBI elaborou uma lista curiosa de amantes, que Oates estampa no livro. Estão lá desde Boris Karloff, passando pelos irmãos Marx e Ronald Reagan, até Mae West e Shelley Winters. Segundo a autora, a reprodução do dossiê funciona como uma paródia, um alívio cômico, pois é outra coisa que ela deseja desvendar.
Afinal, qual é a grande vantagem de um romance diante de uma biografia? A ficção pode mergulhar na alma do personagem, pode trazer à tona seus pensamentos, pode radiografar a mente do ser à medida que ela funciona. Por trás da máscara icônica, Marilyn pode surpreender.
Marilyn (ou Norma Jeane?) queria montar Tchecov, queria ser reconhecida como boa atriz. Quando finalmente teve sua chance de viver um papel dramático, em "Os Desajustados" de John Huston, o cineasta zombou dela ao lembrar do teste de elenco para o "O Segredo das Jóias", mais de dez anos antes.
Na época, a atriz surpreendera ao deitar-se no chão, pois sua personagem era inicialmente captada assim pelos olhos do amante. Ela fez uma coisa bastante inteligente: insinuou que o ponto de vista escolhido para mostrar a personagem pela primeira vez definia-lhe o comportamento.
Insensível, Huston diz que não foi por isso que a escalou naquele filme. Segundo ele, a atriz ganhou o papel "quando se virou e foi embora". Marilyn, cujo cérebro estava enevoado por barbitúricos, em princípio ficou confusa. Quando enfim compreendeu a grosseria ("Ele estava se referindo à minha bunda"), sentiu-se nauseada.
Marilyn Monroe, nascida Norma Jean Baker, no fundo não foi compreendida por ninguém. Talvez tenha sido sua grande tragédia. Como define o Ex-Atleta: "Às vezes ela o assustava (...) era como um desses enigmas zen que não conseguimos captar".


Blonde
    Autora: Joyce Carol Oates Tradução: Luiz Antonio Aguiar Lançamento: editora Globo Quanto: preço a definir



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