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CRÍTICA
Obra é mergulho na alma do ícone sexual americano
CRÍTICO DA FOLHA
A cabará frustrado quem
buscar em "Blonde", romance de Joyce Carol Oates sobre Marilyn Monroe, detalhes inéditos,
sórdidos ou mirabolantes sobre a
vida da loira platinada. Na versão
bastante pessoal da escritora norte-americana, nem mesmo a verdade é o que parece ser. Como diz
Oates, não é uma biografia.
A romancista amplia detalhes,
aglutina fatos e pessoas, inventa
episódios. De certo modo, "Blonde" é um "roman à clef" cuja chave nem sempre é fácil de identificar. Epítetos definem certas personalidades. O Ex-Atleta é o astro
do beisebol Joe DiMaggio, o Dramaturgo é Arthur Miller, o Presidente é John Kennedy.
Marilyn, sabe-se, nunca foi santa. Transou para subir na carreira.
O FBI elaborou uma lista curiosa
de amantes, que Oates estampa
no livro. Estão lá desde Boris Karloff, passando pelos irmãos Marx
e Ronald Reagan, até Mae West e
Shelley Winters. Segundo a autora, a reprodução do dossiê funciona como uma paródia, um alívio
cômico, pois é outra coisa que ela
deseja desvendar.
Afinal, qual é a grande vantagem de um romance diante de
uma biografia? A ficção pode
mergulhar na alma do personagem, pode trazer à tona seus pensamentos, pode radiografar a
mente do ser à medida que ela
funciona. Por trás da máscara icônica, Marilyn pode surpreender.
Marilyn (ou Norma Jeane?)
queria montar Tchecov, queria
ser reconhecida como boa atriz.
Quando finalmente teve sua
chance de viver um papel dramático, em "Os Desajustados" de
John Huston, o cineasta zombou
dela ao lembrar do teste de elenco
para o "O Segredo das Jóias",
mais de dez anos antes.
Na época, a atriz surpreendera
ao deitar-se no chão, pois sua personagem era inicialmente captada assim pelos olhos do amante.
Ela fez uma coisa bastante inteligente: insinuou que o ponto de
vista escolhido para mostrar a
personagem pela primeira vez definia-lhe o comportamento.
Insensível, Huston diz que não
foi por isso que a escalou naquele
filme. Segundo ele, a atriz ganhou
o papel "quando se virou e foi embora". Marilyn, cujo cérebro estava enevoado por barbitúricos, em
princípio ficou confusa. Quando
enfim compreendeu a grosseria
("Ele estava se referindo à minha
bunda"), sentiu-se nauseada.
Marilyn Monroe, nascida Norma Jean Baker, no fundo não foi
compreendida por ninguém. Talvez tenha sido sua grande tragédia. Como define o Ex-Atleta: "Às
vezes ela o assustava (...) era como
um desses enigmas zen que não
conseguimos captar".
Blonde
Autora: Joyce Carol Oates
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Lançamento: editora Globo
Quanto: preço a definir
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