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Crítica/DVD/"Onde Está a Liberdade?"
Filme exibe Totò sob direção de Rossellini
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O napolitano Antonio de
Curtis (1898-1967) arrumou um lugar entre
os mais populares humoristas
do cinema europeu com o
pseudônimo de Totò, mas não
se limitou a estrelar comédias
de costumes. Pier Paolo Pasolini, por exemplo, tomou emprestada a sua figura, com ótimo resultado, no marxista "Gaviões e Passarinhos" (1966).
Antes, Totò já havia experimentado outra variação em sua
carreira pelas mãos de Roberto
Rossellini (1906-1977), um dos
pilares do neorrealismo italiano, em "Onde Está a Liberdade?". Rodado entre março e
maio de 1952, o filme só foi lançado na Itália em 1954, depois
que um velho parceiro de Totó,
Mario Monicelli, dirigiu cenas
adicionais.
A contribuição de Monicelli
("Meus Caros Amigos", "Parente é Serpente") corresponde
à parte mais cômica, em que o
barbeiro interpretado por Totò
vai ao tribunal por algo inusitado: a invasão da cadeia de onde
havia sido liberado dias antes,
após cumprir 22 anos de pena.
Por que resolveu abrir mão
da liberdade para voltar ao cárcere? Enquanto procura explicar ao juiz seus motivos, sob
protestos do advogado de defesa, entram os flashbacks, que
reconstituem, bem próximos
dos parâmetros da escola neorrealista, seus percalços na tentativa de se reintegrar à sociedade, em Roma.
O problema não é o barbeiro,
transparente e ingênuo a ponto
de contar a desconhecidos o
crime que o levou pela primeira
vez à prisão. A sociedade italiana do pós-guerra é que não parece muito disposta a reintegrar ninguém, às voltas com a
luta pela sobrevivência que torna o convívio social um jogo de
salve-se quem puder.
Essa visão ácida, que a atuação de Totò deixa um pouco
mais leve e satírica, integra-se
bem à obra de Rossellini, embora os créditos devam ser divididos, à moda de trabalho coletivo do neorrealismo, com outros quatro roteiristas -o mais
ilustre é Ennio Flaiano (1910-1972), que assinou clássicos de
Federico Fellini e Michelangelo Antonioni.
Como se não bastassem Rossellini, Totò, Monicelli e Flaiano, a aguda crítica social de
"Onde Está a Liberdade?" tem
seu peso valorizado pela reunião, nos créditos, dos dois produtores italianos mais ambiciosos e bem-sucedidos do pós-guerra, Carlo Ponti ("Doutor
Jivago") e Dino DeLaurentiis
("Guerra e Paz").
ONDE ESTÁ A LIBERDADE?
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 38, em média
Classificação: não informada
Avaliação: bom
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